terça-feira, dezembro 12, 2023

Terça, 12.

A escrita é feita com nervos e emprego de toda a energia que o seu autor puder e quanto mais revoltada, espontânea e impulsiva for, mais verdadeira é. Estas páginas são disso prova. Se alguém me ler daqui a meio século, constatará isso mesmo. Há em todo este trabalho dúvida, incerteza, desespero, alguma raiva, mas também ternura, fragilidade, exposição por vezes descarnada, impropérios, insubmissão, independência, liberdade e revolta. Um exemplo. Quando digo que os partidos me parecem clubes de mafiosos, é porque os vejo a tratar dos seus interesses à socapa e nada da população pobre, marginalizada, sem respeito nem dignidade; milhões dos seus impostos esbanjados em projetos megalómanos, e o essencial, o primário da existência respeitável e humana, pura e simplesmente ignorada posta de lado como coisa supérflua. 

         - A guerra EUA/Israel acabará quando nada houver para destruir, quando todo o território palestino estiver reduzido a escombros. Talvez até o chefe máximo e construtor do crime da matança dos jovens israelitas liquidado, mas o ódio contra o povo de Israel perdurará no fundo da terra onde o sangue árabe foi derramado e onde vidas humanas sem vala foram abandonadas. Cito Carmo Afonso no Público do fim-de-semana: “Cada bomba que Israel lança sobre a Palestina é uma semente para a próxima guerra. Cada uma das crianças que sobreviverem está carregada de revolta e raiva. Ninguém, no seu perfeito juízo, pode acreditar que a continuação destes ataques que matam civis indiscriminadamente representa um caminho para a paz.” 

         - Manhã extremamente árdua de trabalho, cada palavra arrancada a saca rolhas e ao cabo de duas duras horas, apenas meia página os meus olhos encontraram no ecrã do computador. 

         - Quem o viu e quem o vê! Refiro-me ao senhor António Costa. Longe vão os tempos em que sua excelência atirava à multidão invejosa e ávida de poder: “Tenham paciência, ganhei a maioria, têm que me gramar.” Hoje é vê-lo carpir as mágoas, humilde, choroso, magoado, defendendo-se do mesmo modo como outros camaradas o fizeram, sabendo que o povo aprecia a lágrima fácil, o tom submisso, que normalmente dá votos e o coloca ao nível da plebe. Nisto o homem é mestre, é esperto e tem lata suficiente para a representação.