Sábado, 23.
A unidade desta gente que nos governa, vai desde a cor das ceroulas que usam às verdades que nos impingem. Sem esquecer o novo-riquismo que prevalece por sobre actos e mentiras, aparência e hipocrisia. Reaparece nesta dentada efectuada por João Miguel Tavares no Público de hoje e que vale ab-so-lu-ta-men-te a pena ler, o caso das gémeas brasileiras. A turbamulta que liga tudo e todos e até o nefando bispo Ornelas a este facto, no centro da qual está o senhor Nuno Rebelo de Sousa, economista, em serviço no Brasil, descendo do avião todo aperaltado e descrito como vedeta brasileira dos anos Sessenta pelo cáustico jornalista que prontamente o fotografou: “A sua chegada em silêncio absoluto ao aeroporto de Lisboa, cheio de estilo e vaidade, óculos escuros à noite, boné preto da Mercedes, mochila Monblanc de 1500 euros às costas, um homem rico que ajudou amigos ricos a usufruírem dos meios limitados do SNS - e é mais um prego na popularidade de Marcelo Rebelo de Sousa.” Eu posso afirmar com conhecimento de causa, que o pai é totalmente o oposto neste aspecto ao filho.
- Continuemos, portanto, no Público para registar o início da crónica de António Barreto. “O vocabulário político é reduzido e estereotipado. A oratória política é pobre e previsível. A retórica eleitoral cada vez mais enfadonha. A linguagem política tem-se transformado, ao longo das últimas décadas, numa torrente palavrosa sem significado. Os termos, as expressões e os conceitos raramente traduzem o que realmente se pensa e quer dizer, mas quase sempre o que se deve dizer e que não se pode deixar de dizer. Perde a cultura. Perde a política. Perdemos todos.” Acontece que o que está subjacente neste escrito, é que os políticos são cultos e por conveniência utilizam meios linguísticos que melhor servem a sua ambição. Ora não é verdade, caro António Barreto. Basta ouvi-los falar, para percebermos que não só são incultos como básicos. Não sabem, são ignorantes pura e simplesmente. Apesar de sermos dos poucos países da Europa que exige o curso superior aos candidatos ao Governo do Estado. Blá-blá-blá.
Tomei o hábito de dizer aos meus leitores como fui preenchendo os dias em diálogo com os meus amigos recentes ou de longa data durante o ano que agora finda. Portanto, aqui fica a lista que desejo possa ser aproveitada nem que seja por um só leitor.
Toute Ma Vie (Journal 1946-1950) – (Releitura) Julien Green
Evangelhos Apócrifos - Tradução de Frederico Lourenço
In memoriam – Jean Schlumberger
Metamorfose Necessária/ Reler São Paulo – José Tolentino Mendonça
Jardim das Tormentas – Aquilino Ribeiro
Une Vie – Simone Veil
Bíblia (Os Livros Históricos, Tomo I) – Tradução de Frederico Lourenço
La Sérénité passionnnée – António Costa Gomes
Un Voyaguer solitaire est un diable - Henry de Montherlant
L´atelier noir – Annie Ernaux
A Torre dos Segredos – Edward Wilson-Lee
Diário Inédito – Vergílio Ferreira
Idiss – Robert Badinter
Correspondance – Gustave Flaubert et Guy de Maupassant
Evangelhos Apócrifos - (Releitura) Tradução de Frederico Lourenço
Le vin, le vent, la vie – Abû Nuwâs
48 Ensaios – Virginia Woolf
- Um drama terrível em Praga, nos lugares da minha perdição, por onde deambulei inúmeras vezes entre a universidade e o cemitério judaico, um rapaz de 24 anos, aluno da faculdade, matou a tiro com arma semi-automática 14 colegas. Antes de sair de casa, liquidou o pai do mesmo modo. Que dizer? Que pensar? Não se tratou de nenhum crime passional, político, religioso, terrorista. Talvez o desajuste da vida, do mundo actual onde os jovens não têm a quem se agarrar, perdidos na fantasia da Internet, que lhes dá o melhor como o pior.
- Ontem encontrei-me com o João e mais tarde vieram juntar-se a nós a filha e o genro na Brasileira. Bons momentos. Dali, depois de nos separar-nos, fui ao C.I. liquidar a conta do mês passado e regressei ao Chiado para me refugiar no café da Fnac para duas horas de escrita. Momentos ainda mais felizes, felizes como nenhuns outros.
- No início da semana almocei com o Simão. Para surpresa minha, ele vai separar-se da mulher de quem tem uma filha. Motivo: não ver nela o amplexo espiritual que ele busca e quer viver em sintonia. Não conheço casal algum que se tivesse divorciado por este motivo. Mas o que há de arrebatador na natureza humana, é a constante surpresa que nos sacode. Pela minha parte é extraordinário ter amigos assim desformatados. Se um escritor tivesse estruturado hoje uma narrativa com esta temática, todos o achariam louco ou misterioso. Ou diriam que Dostoievski estava de regresso.
- Quando vou a Lisboa, aproveito para distender as pernas. Ontem o meu iPhone registou: 8,5 km andados; 13 lances e escadas subidos; 12392 passos, 8 horas e 30 minutos de sono. Não é magnifico?