domingo, dezembro 03, 2023

Dezembro, 3.

Larguei a conversa de café para chegar a casa a tempo de assistir à missa dominical. E quem me sai ao caminho? O cónego Tony dos Açores com os seus tiques e validades habituais, em tudo idênticas ao seu colega bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar. Fugi. 

        - Nestes últimos três dias, vieram espreitar este blogue, mais de trezentas pessoas! Surpreendente! Um susto! Decerto foram atraídas por alguma nota em algum jornal e não permanecerão como leitores fiéis. Contudo, senti medo e não queria acreditar – sou por momentos vedeta dessa obscura teia do disse-que-disse chamada Internet. Burrrrrrrrr! 

         - Num país de pensionistas e funcionários públicos, quem é que realmente arrisca? – “pergunta João Miguel Tavares no Público de ontem, para concluir – Os políticos gritam tanto mais contra os radicalismos de PSD e PS quanto mais deixam de acreditar na possibilidade de alterar o estado das coisas. Num país envelhecido e dependente, a mudança mete medo. (...) Mas se os partidos tratam o país como se fosse um lar de terceira idade, então é ridículo fingir que ele é um antro de pervertidos radiais.” 

         - Soubemos agora pelo The New York Times que Israel sabia dos planos do HAMAS para atacar o país. Netanyahu ignorou-os por conveniência política e sobrevivência dos radicais nacionalistas que o apoiam. O resultado está à vista e o Governo do corrupto segue com a dizimação dos palestinos e o destino da Palestina não ficará como antes. Israel quer para si todo o território e ambiciona erradicar dali árabes e palestinos. Espero sinceramente que a Europa e os Estados Unidos se unam contra tamanha barbárie. Se os políticos oportunistas pensarem o contrário, que os povos os forcem nas ruas a olhar a inocência como direito à dignidade da vida. 

         - Justamente, há instantes, colaram-se-me os olhos lavados de lágrimas ao ecrã de televisão, ante o drama desta manhã oferecido ao mundo inteiro pelos terroristas israelitas: no bombardeamento faleceram 700 pessoas, entre elas muitas crianças. Um rapazinho de uns sete anos, chorava a morte do irmão um pouco mais novo, beijava-lhe os pés e dizia querer ser enterrado com ele. Um povo com esta dimensão de sentimentos, não merecia viver ao lado de um outro que em nome de Deus, desde o Antigo Testamento, mais não fez que semear a morte e ainda hoje com profundo desprezo pela vida humana a pratica. Dito isto, tenho a certeza que sou seguido por muitos judeus. 

         - Esta nota: “Os serviços jurídicos privados custam ao Estado 3,7 milhões por mês.” Espantam-se os analistas porque desconhecem em que país vivemos. Somos governados na sua maioria por advogados e, portanto, os ajustes directos são a norma que os socialistas (e não só) utilizam à tripa-forra. As sociedades de advogados enriquem à conta dos políticos corruptos e dos governos falsificados. Está tudo interligado. A podridão é imensa. 

         - Ontem ao serão, diante da lareira acesa, mergulhei nas páginas do poeta Abû Nuwâs. O livro foi-me oferecido pelo Francis quando nos encontrámos no mês de Maio, em Paris. Normalmente desconfio dos gostos deste meu amigo não porque ele não tenha uma sólida cultura, mas porque é quase toda encaminhada para a temática homossexual. Desta vez não variou, mas o autor árabe é um monumento ao nível do melhor que os árabes nos deram e está registado, por exemplo, no palácio de Alhambra onde me perdi até ao delírio.