quinta-feira, abril 01, 2021

Quinta, 1 de Abril.

A par da epidemia que alastra por todo o mundo e não se vê meio de parar, outras pragas aproveitam a estupefacção dos países para os atacar. É o caso de Moçambique, aquele terno país com gente maravilhosa, que não merecia o que lhe está a acontecer. O velho Daesh que Bush filho criou (apoiado pelo corrupto e anafado Durão Barroso, entre outras quejandas criaturas) ao atacar o Iraque, decidiu dizimar centenas de pessoas e deixar sem pais pelo menos uma centena de crianças que fugiram de Palma para escapar aos combates. Aquela obsessiva e criminosa dinâmica dos jihadistas vem de longe, embora a comunidade internacional e Portugal nunca tivessem avançado para proteger as aldeias do susto da morte inesperada. Foi preciso que um ou outro estrangeiro fosse apanhado no fogo cruzado, para que a América e Portugal, enfim, olhassem de frente o drama que se desenvolvida há meses debaixo dos seus olhos. 

         - O segundo país que tem aproveitado a fundo o drama causado pela Covid-19 é o Brasil, mais exactamente o seu destravado Presidente Bolsonaro. Ou eu me engano muito, ou vai ser ele a realizar aquilo que Trump não conseguiu numa democracia robusta como a dos EUA – implementar um regime duro apoiado no Exército. Vou estar atento. 

         - Mas também a China de onde partiu o vírus. A pouco e pouco vai fazendo a uniformização política: Hong Kong, Taiwan e agora Macau. Xi Xinping ping ping não descansa enquanto não pisar com a sua bota de espinhos pervertidos, a liberdade que esses países conheceram na sua longa história. “Ver aquilo que temos diante do nariz, dizia Orwell, requer uma luta constante.”  

         - A que acrescento a Birmânia onde nestes dias as forças armadas mataram mais 114 pessoas. Em todos estes países o que está em causa é a liberdade, a justiça, os direitos humanos - matéria que o buda chinês ignora. Não calo a invasão do pacifico Tibete hoje mais uma província da China. O Ocidente não se dá conta da paciência de caracol dos chineses e acha piada a Rota da Seda que eles estão a tentar construir a partir do Oriente profundo, mas que esconde um domínio futuro. Tudo, assim como a quantidade de empresas adquiridas na Europa, a manápula sobre os seus sistemas de produção e de segurança, fica à mão do seu sonho imperialista, tudo está estrategicamente planeado. Os políticos, obcecados com poder, fingem não perceber. 

         - Com a ajuda de Putin, o ditador Lukashenko que governa a Bielorrússia há quase trinta anos, deteve em Minsk nada menos que três editores e uma centena de pessoas. Eles protestavam contra a manipulação que o sujeito fez quando das presidenciais de Agosto passado, abotoando-se com 80 por cento dos votos. Como se vê o mundo tem cada vez mais tiranos que se julgam iluminados por uma qualquer providência que os distancia dos demais. George Orwell pede-nos vigilância – acatemos o seu aviso. 

         - Todos os anos sou tocado pela raiva de ter que vender este espaço quando sinto não ter capacidade física e anímica para dele tratar. Este ano com o joelho da perna que nestes tempos de pandemia afasta os seus admiradores, homens feitos ou rapazes imberbes, todos atraídos pela sua perfeição, robustez e originalidade, andou um tempo travada de doença. Tinha muitas dores e o senhor Baker que ainda não a largou completamente impedia que puxasse pela outra que a senhoras idosas e as jovens debutantes nessa arte de expor o desejo à cupidez dos sentidos, tanto idolatram. Este ano, pois, pensava ser impossível tratá-lo como sempre o tenho feito. Mas depois (tal como acontece quando chego a Paris e sinto que não vou ser capaz de calcorrear a cidade a pé) as coisas arranjaram-se e eu voltei a ser aquele jardineiro ou lavrador que conscienciosamente trabalha o seu pedaço de terra. Assim, toda a zona à frente da casa, está quase limpa e o espaço cresceu em beleza. Bendito seja Deus! 

         - Em certas alturas da vida, caio abruptamente e nada posso fazer senão esperar que toque no fundo para depois iniciar a ascensão. Sempre assim fui e as crises existenciais, espirituais, os desânimos da vida, as descrenças pessoais afectam-me de tal modo que me vejo em mil fragmentos encostado ao desânimo que é mais forte que a vontade de me erguer. Claro que a forma como vivemos hoje me condiciona. Porque uma coisa é gostar de ser solitário e viver em consonância, outra é imporem-me essa condição. Eu sou por natureza intrínseca um ser livre, pautado por valores que outorguem na desordem do espírito, em contra-corrente com a vida comezinha, dada a valores triviais, dissecados de conjugações familiares e sociais, padronizadas por uma ideia altruísta impregnada na vivência colectiva em cujos padrões não me revejo. A fantasia guardo-a para os livros, o delírio também. Por isso, sofro de coração aberto, expondo os meus sentimentos, numa luta constante por ir mais além de cabeça erguida e coração exposto à compaixão e à entrega do outro. Este que habita em mim e o meu semelhante que é o meu íntimo complemento. Ao contrário do que diz o cascalho analfabeto orientado por doutrinas morais ou políticas, é mais interdependente aquele que se apoia na solidão construtiva sem perder de vista o outro, que o concubinato na sua essência egoísta. Há no ser solitário um mistério que inquieta não só o poder porque não o controla facilmente, como o grupo quase sempre de uma grande fragilidade e disposto a aceitar o que lhe dão. Todos os ditadores sabem isso. É mais fácil vencer um punhado de homens armados, que um ser isolado, perdido no emaranhado de um café, de uma gare, de um campo de centeio.  

         - Falei com a Annie, Corregedor, Carmo Pólvora, Alice, Francis, António. Tempo pesado. Fins de dia a puxar ao peso do firmamento, como um castigo para que nos agachemos ante a omnipresença que do alto nos vigia.