sexta-feira, abril 23, 2021

Sexta, 23.

Nunca saberemos na hora da morte como reagem os agnósticos, os incrédulos, os ateus ante o que se segue. Alguns mais corajosos, contam-nos o que lhes aconteceu perante o sofrimento, a iminência do fim, a entrada naquele “túnel de luz” como me narrou o Alexandre Ribeirinho uns dias antes de falecer. Daniel Sampaio esteve em situação limite por Covid-19, e ao Expresso fala dessa experiência. Deus não fazia parte do seu convívio quotidiano até que... André Malraux que também afirmava não beber dessas águas, quando o filho morreu exigiu enterro católico “porque ele não era um saco de batatas”. Diz Sampaio: “Sempre disse que não era ateu, mas agnóstico e lembrei-me de uma frase de Voltaire que, quando indagado sobre a sua relação com Deus, dizia: `Cumprimentamo-nos, mas não nos falamos.` Eu tenho muito respeito pela ideia de Deus, não sou crente, mas confesso que muitas vezes pensei em Deus, e se Ele me podia ajudar. Tive imensa gente a dizer que estava a rezar muito por mim, eu agradecia e foi muito reconfortante. Nunca minimizei a fé dos outros e a ideia de que Deus eventualmente me poderia estar a ajudar-me foi uma ideia boa.” 

         - Este país de Costa e companhia, é um lugar que precisa urgentemente de ser sulfatado com Roundup. A erva daninha e o escalracho que tem medrado desde que os “socialistas” montaram ao poder por artes que a votação popular não lhes deu, é impressionante. Todos os corruptos parece terem percebido que é fazendo-se membro de uma tal organização, ficam com acessibilidade ao tacho sem fundo. Só esta semana a PJ andou numa roda-viva à cata de documentação que prove o que denuncias anónimas e factos concretos, confirmam. Vejamos. Só na câmara dirigida pelo bebé Nestlé, foram nada mais nada menos que sete, 7, negócios inspeccionados por suspeita de corrupção, com a assinatura de Manuel Salgado que foi quase o rei de Lisboa, quem mandava na câmara era ele, o Presidente parecia seu lacaio. (Eu cruzei-me com o homem uma vez, sob pressão do Patrício Gouveia. Fui ao seu escritório, ao Chiado, e depois de o ouvir devo ter sido o único que lhe bateu com a porta e o deixou a falar sozinho. O sujeito parecia alucinado. Mas isto foi contado em pormenor noutras páginas.) Mas há mais alastrado pela grande cidade: um prédio na Praça das Flores (julgo saber qual porque vivi anos a fio ali), a reabilitação da piscina de Penha de França (onde aprendi a nadar com a ajuda e amizade do Mário Frota), as Twin Towers  e Convento do Beato. A operação cujo nome é Olissipus, é bem demonstrativo da teia de interesses que se abrigam debaixo das asas dos socialistas. São os outros melhores, quero dizer os do PSD?, não. Claro que não. O que sei é que esta gente dá mais trabalho ao Ministério Público que toda a ladroagem que assalta galinheiros. Há seis, 6, procuradores a trabalhar em oito, 8, inquéritos sob a alçada do Departamento de Investigação e Acção Penal Regional de Lisboa. Foram feitos vente e oito, 28, mandados de busca, dos quais dez, 10, domiciliárias, e dezoito, 18, não domiciliárias. Mas a coisa não se fica por aqui: houve mais no Algarve e Madeira, quase tudo sob protecção socialista. Que diz sua excelência o imperador da cidade? “Estou tranquilo.” Ufa! Ufa! 

         - A prova de que a democracia está à venda, reside na festança do 25 de Abril. Abrigados pela Covid-19 que dá para tudo, o que resta da brigada dos “militares de Abril Sempre”, quer impor quem entra e quem fica de fora do desfile. Vai por aí mais uma diarreia de palavreado. Mas a mim, o que acho devia ser feito, era questionar o tipo de democracia que temos, contar o número de pobres, de trabalhadores que não ganham para pagar um simples quarto, dos velhos a morrer de tédio nos lares, perdão, nas residências sénior, na diferença de vida entre o cidadão comum e os senhores deputados, gestores públicos, governantes e assim. É o país real que devia descer às ruas a chamar os bois pelos nomes, e não esta velha e relha lembrança de um tempo, passada a euforia, se aquietou numa lânguida e destruidora máquina humana. 

         - Fui à pressa a Lisboa. Entrada por saída na Brasileira e logo desci o Chiado para ir à Fnac adquiri livros sendo hoje o dia deles. Comprei o último de Manuel Vilas. Alegria. Como o que li anteriormente, também neste a editora decidiu atribuir-lhe outro título : E, de repente, a alegria; Aquilo em que acredito de Hans Kung; um romance de Valter Hugo Mãe... Almocei no Vitta Roma também à pressa e regressei a casa sob ameaça de chuva intensa. Mas aqui, embora o céu estivesse pesado de nuvens escuras, ainda não choveu. São 17, 48.