sexta-feira, abril 16, 2021

Sexta, 16.

Pois lá fui ao anexo da antiga Escola Politécnica para ser vacinado. Serviço impecável, aprendido com desastres iniciais, sem filas de espera, suficientes estruturas, de modo a que a operação decorresse célere. Antes de ser inoculado, deram-me um cartão onde consta aquela primeira dose e a última. Diz-me a rapariga espanhola no seu português divertido que devo voltar no dia 13 de Maio para segunda toma. Enquanto a escuto, penso na data e em tantos outros momentos complicados em que me cruzei com os números 12 e 13, dito de outro modo, com a presença da Virgem protectora. Logo ela, parecendo ler os meus pensamentos: “É no dia de Nossa Senhora de Fátima.” Sorrio. Sorrimos os dois. 

Depois da picada da Pfizer sou conduzido ao recobro por uma rapariga que, ao ver-me sacar da mochila um livro da Poche, se mostra interessada em saber de que se trata. Falo-lhe por alto de George Sand de quem ela nunca havia escutado o nome. Ali ficamos muito tempo, com ela a fotografar a capa, a procurar no portátil informação sobre a escritora, dizendo-me que é empregada na Câmara de Lisboa e adora ler. A coisa foi tão excitante, que me perdi entusiasmado contando a vida da autora de Lélia e de perto de meia centena de livros, esquecido do que me tinha levado aquele lugar. Sou alertado por uma outra donzela simpática que em nome do bebé Nestlé, nos oferece um saco com uma pequena merenda: água, duas bolachas de água e sal, uma maçã Gália. Penso: o homem tudo inventa para conservar o posto, sabendo de ante-mão que os velhos estão em maioria no acto de votar. (Há instantes tendo-me telefonado o Príncipe, conto-lhe o que acabei de narrar, acrescentando: “O bebé Nestlé quer-nos comprar com um cabaz de coisa nenhuma e de imediato ele: “Então é melhor que nada.” Até compreendo devido às suas origens humildes – que não impediram que tivesse chegado à cátedra universitária - mas traduzem a sociedade miserabilista que é a nossa, para quem o pouco sabe a muito. É neste tipo de comunidade que os chicos-espertos progridem e exemplos não faltam. 

         - Saí para a rua onde uma chuva miúda caía. Esbarro com a pintora Graça Morais que ia entrar e depois de uma ligeira troca de palavras devido à pressa que tinha, alcanço o meu velho Alsaciana, quero dizer a paragem de eléctrico que aí existe. Como o transporte demorasse, entrei no saudoso café e encomendei o jantar. Estou a aguardar que os pastéis de bacalhau fritem, quando um rapaz de uns 18-20 anos se aproxima. Grande e descontraída conversa, com dois ou três convites a dança, simpatia a jorros, bonitinho de cara, corpo elegante e uma irresistível descontração como se nos conhecêssemos de longa data. A dada altura digo-lhe que já antes da Covid tinha fechado a loja e ele que percebia de encriptação, abriu os braços e exclamou:“Já!” 

         - O Figaro Magazine desta semana traz uma entrevista com o novo embaixador da Hungria em França. É um Habsbourg, Georges Habsbourg-Lorraine de seu nome, neto do imperador da Áustria e rei da Hungria Carlos I (Carlos IV da Hungria) e filho de Otto de Habsbourg que faleceu em 2011. A Hungria que a nossa esquerda tanto condena, tem, todavia, políticas que eu gostava de ver serem defendidas pelo BE e PCP. Como já aqui disse, tinha marcado viagem para Budapeste em Abril do ano passado e, embora tenha escrito uma série de e-mails para reaver o dinheiro do hotel, a seriedade imperou e o montante entrou na minha conta bancária, coisa que não fez a TAP tão nacionalista aos olhos do pagode da esquerda. Acresce que o seu irmão, Eduard Habsbourg-Lorraine, acaba de ser nomeado embaixador da Hungria junto da Santa Sé. É dele estas palavras que o escritor Rentes de Carvalho traduziu do semanário EW Weekbland. "O governo de Orbán tem sido ridicularizado acerca da sua política familiar, mas esta tem resultado. A Hungria sofre de uma crise demográfica e o governo tenta há anos desesperadamente para que aumente o número de nascimentos. Isso é importante para o Estado, pois as crianças são quem no futuro pagará os impostos. Desde o ano passado entraram em vigor novas medidas. Após o terceiro filho o cidadão paga um IRS muito baixo, e após o quarto filho deixa de pagar IRS para o resto da vida. Há hipotecas para casais jovens e após o nascimento do primeiro filho só se tem de pagar dois terços, com dois filhos um terço, e nada depois do terceiro filho. Além disso o casal recebe dinheiro para comprar um carro familiar e o governo paga aos avós para que cuidem dos netos."

         - Não resisto a transcrever a parte final do artigo de Francisco Teixeira da Mota, no rescaldo do caso Sócrates:“Este primeiro-ministro está a responder em tribunal por crimes graves e, por isso, não é agradável bater-lhe, antes devendo ser objecto de compaixão, mas ao esquecer-se de tudo o que ficamos a saber e ao insistir publicamente  na tese da cabala como razão de ser da Operação Marquês, atribuindo-se, assim, um estatuto público de mártir ou mesmo herói, comporta-se como se estivesse convencido que somos todos estúpidos e que não percebemos o penoso papel que desempenha na vertente não judicial desta tragicomédia: a de um pantomineiro que, infelizmente para todos nós, fez e faz mais pelo descrédito do regime democrático do que qualquer perigoso populista.”