domingo, abril 04, 2021

Domingo, 4.

No mundo de hoje, o Papa Francisco é o único que vê claro e nas suas palavras não se vislumbra qualquer espécie de facciosismo mesmo religioso. Antes do Urbi et Orbi, ele pronunciou algumas palavras e todas na direcção desse mundo sofredor: Haiti, Síria, Moçambique, Iraque, Líbano ... devastado por guerras, miséria, suor, sangue e sofrimento. Ouvi-lo é recentrar a vida nos autênticos problemas que urge tratar, encaminhar, resolver. 

         - Regressar ao interior da casa banhada pela luz cristalina da manhã e recolher-me a escutar os sons longínquos derramados nas tardes habitadas das recordações que não se contam a ninguém, tornadas segredos que as paredes guardam e o silêncio abraça até se liquefazerem num murmúrio tangível, espécie de confissão sem remissão, choro sossegado que acalma a dor e reinventa e anima a chegada de novos dias...  

         - O António ligou-me a transmitir-me estas palavras: “O João diz que te vai ligar porque tu és muito religioso.” Bom. Entretanto, recebi dois longos telefonemas: um para o telefone de casa, outro para o portátil. Quando desliguei tinha várias chamadas do João Corregedor e quando me preparava para responder, eis que o tenho no iphone. “Olha, estou a ligar-te, embora não seja católico, para te desejar um bom Domingo de Páscoa.” Depois seguiu-se a ladainha do costume. A dada altura digo-lhe que não compreendo a atitude do seu partido, ao sistematicamente votar contra o confinamento. “Sabes o partido vota contra por medo dos despedimentos colectivos. - Entretanto, morrem milhares e sofreu daqui a nada um milhão. - Tens razão. Eu quando estiver com eles vou levantar o assunto.” Acontece que, àquela gente, só lhes interessa quem pode tratar dos seus assuntos e o Corregedor ainda não compreendeu que depois de ter deixado a Assembleia onde foi deputado julgo que trinta anos, representa zero. Não lhe perguntei onde foi ele buscar aquela de que sou “muito religioso”. Se tivesse dito que não posso viver sem Deus, eu que sou um inveterado pecador, estaria no centro da verdade.  

         - Estrondoso dia de luz suave, límpida, com uma leve presença humana a dispersar-se no espaço. Ontem e hoje, graças à televisão, pude participar nos ofícios litúrgicos de Roma. Não obstante a distância, um grão de emoção e sentimento de partilha instalou-se aqui. Com ele entrou uma rajada de paz, silêncio, doce tranquilittate. Suspendo-me para ver o concerto no Arte.