Domingo, 6.
Vai por aí
uma grande excitação com a subida do poeta Tolentino Mendonça a cardeal. A esquerda,
pelo que ouço e vejo, está em delírio. Nos jornais, rádios e televisões
apressam-se a tecerem-lhe rasgados elogios e à sua obra poética, acentuando a
“facilidade em construir pontes de diálogo” Ele foi um dos obreiros da Capela
do Rato e eu conheço vários crentes e não crentes que participaram nesse cenáculo
de combate ao regime e aproximação a Deus do lado contrário ao ram-ram da
Igreja. Não lhe conheço a obra literária, como também nada sei da luta concreta
em favor dos desfavorecidos, da pobreza e solidão de milhões de pessoas. Os
seus amigos nada nos dizem sobre isso, não falam de uma obra concreta que o
senhor cardeal tenha realizado. Se calhar estou a ser injusto, mas a culpa não
é minha. Estou farto de patuá, conheço a verba malabarista da esquerda, sei
quanto difere da realidade e, especialmente, como converge para o oportunismo
pessoal e partidário.
- Fui votar na minha antiga freguesia
das Mercês. Pelo tio Jerónimo e não pela sua filosofia (leia-se o que disse
sexta-feira, 3 de Setembro). Para chegar ao Liceu Passos Manuel, subi o Chiado,
Príncipe Real, desci a Rua de São Marçal (onde vivi no número 17), continuei
até ao fundo, e à esquerda entrei no velho edifício. Vazio. Vazio! Sim. Na
minha secção de voto, a 5, não havia vivalma, eram 11,45. Sinal de que a
abstenção vai ganhar? Veremos. Por agora continuemos a marcha a pé subindo a Calçada
do Combro com paragem no Príncipe não para almoçar, mas para dar dois dedos de
conversa e ver a última produção de desenhos do Carlos Soares. Depois desci ao
Rossio, mastiguei duas tretas e meti-me no Fertagus de regresso a casa.
- 21,42 horas. É evidente que o PS
ganhou as eleições e com os votos que obteve, vai poder governar só com vários
apoios possíveis à esquerda no Parlamento. Contudo, o grande vencedor, foi a abstenção
que deve tocar os 50 por cento. A maior preocupação que não vejo nenhum partido
analisar, obtusos com o poder.