sexta-feira, outubro 25, 2019

Sexta, 25.
Querem uma prova mais do que me diziam os grandes empresários quando emparceirava com eles: desde 2011 que Portugal deixa partir somas astronómicas para offshores. Segundo a nossa queridíssima União Europeia, só Chipre e Malta nos batem na fuga ao fisco. Os CIO como agora se diz, já nesse tempo me diziam que preferiam no governo os socialistas aos social-democratas. Eles lá tinham as suas razões.

         - O novo Governo vai ser empossado amanhã. É o maior desta democracia desmembrada: 19 ministros, 50 secretários de Estado. A questão é esta: que fará tanta gente em favor do país, dos pobres, do desenvolvimento, dos doentes, da cultura? Eu respondo: como habitualmente muito pouco ou nada.

         - A temperatura aumentou um tanto. O dia abriu suas asas quentes e distribuiu cor e vida na terra. Nós, neste canto tão mal aproveitado de gente e paisagem, nem tempo temos para agradecer ao Criador a felicidade que nos coube. Com tudo o que se projecta para o Planeta, dá-me ideia que aqui, neste rectângulo no limite do Continente, as quatro estações continuam a bafejarmos na definição intensa do seu prazer.


         - Sentei-me numa de reformado contemplativo no Rossio ao lado de uma dama bon chic bon genre a descansar da menopausa activa, comendo as primeiras castanhas assadas deste Outono. Em verdade, olhando a praça que João Soares muito bem cuidou, em quem pensei foi no padre Gabriel Malagrida, o monge da Companhia de Jesus que Sebastião José de Carvalho e Melo, conde de Oeiras, mandou executar naquela praça  por processos asquerosos do ponto de vista político e déspotas por virem em linha com os usados pelo Santo Ofício. O alucinado sacerdote, foi arrastado com Baraço e pregão pelas ruas da Baixa até ao topo do Rossio onde morreu de garrote. A sentença proferida pela Santa Inquisição, dispunha que depois de morto fosse o corpo queimado e reduzido a pó e cinza de modo a que não restasse memória alguma dele. Já no limite do sofrimento, às portas do derradeiro suspiro, o corajoso padre ainda teve forças para proferir estas palavras: “Peço que me abreviem a minha causa e me castiguem como quiserem. Se procuram um réu, aqui estou; mas se procuram um criminoso, não o encontram em mim.” Quem conheça os terríveis tempos da perseguição do Marquês de Pombal aos jesuítas, compreenderá estas justas palavras do mártir do Absolutismo, Malagrida.