Sexta, 25.
Querem uma prova mais do que me diziam
os grandes empresários quando emparceirava com eles: desde 2011 que Portugal
deixa partir somas astronómicas para offshores.
Segundo a nossa queridíssima União Europeia, só Chipre e Malta nos batem na
fuga ao fisco. Os CIO como agora se diz, já nesse tempo me diziam que preferiam
no governo os socialistas aos social-democratas. Eles lá tinham as suas razões.
- O novo Governo vai ser empossado amanhã. É o maior desta democracia
desmembrada: 19 ministros, 50 secretários de Estado. A questão é esta: que fará
tanta gente em favor do país, dos pobres, do desenvolvimento, dos doentes, da
cultura? Eu respondo: como habitualmente muito pouco ou nada.
- A temperatura aumentou um tanto. O dia abriu suas asas quentes e
distribuiu cor e vida na terra. Nós, neste canto tão mal aproveitado de gente e
paisagem, nem tempo temos para agradecer ao Criador a felicidade que nos coube.
Com tudo o que se projecta para o Planeta, dá-me ideia que aqui, neste
rectângulo no limite do Continente, as quatro estações continuam a bafejarmos
na definição intensa do seu prazer.
- Sentei-me numa de reformado contemplativo no Rossio ao lado de uma
dama bon chic bon genre a descansar
da menopausa activa, comendo as primeiras castanhas assadas deste Outono. Em
verdade, olhando a praça que João Soares muito bem cuidou, em quem pensei foi
no padre Gabriel Malagrida, o monge da Companhia de Jesus que Sebastião José de
Carvalho e Melo, conde de Oeiras, mandou executar naquela praça por processos asquerosos do ponto de vista
político e déspotas por virem em linha com os usados pelo Santo Ofício. O alucinado
sacerdote, foi arrastado com Baraço e pregão pelas ruas da Baixa até ao topo do
Rossio onde morreu de garrote. A sentença proferida pela Santa Inquisição,
dispunha que depois de morto fosse o corpo queimado e reduzido a pó e cinza de
modo a que não restasse memória alguma dele. Já no limite do sofrimento, às
portas do derradeiro suspiro, o corajoso padre ainda teve forças para proferir
estas palavras: “Peço que me abreviem a minha causa e me castiguem como
quiserem. Se procuram um réu, aqui estou; mas se procuram um criminoso, não o
encontram em mim.” Quem conheça os terríveis tempos da perseguição do Marquês
de Pombal aos jesuítas, compreenderá estas justas palavras do mártir do
Absolutismo, Malagrida.