Sexta, 18.
Eu suponho que qualquer português normal
percebe que vive num país surrealista. De contrário, como explicar estes dois
factos: o primeiro, vivido esta manhã no metro. O placard informativo dizia que
havia perturbação na linha azul (onde eu me encontrava), como na amarela e
vermelha devido, se bem compreendi, a reuniões dos trabalhadores. Curiosamente,
porém, os comboios passavam de um lado e outro da gare em maior número e menor
tempo de espera; segundo, a autoridade dos senhores que montaram os elevadores no metro e nas estações, verdadeiro quebra cabeça para o estrangeiro e para mim
que não o sendo apreendi que das catacumbas se sobe, por exemplo, do -2,-1, 0,
1, 2, etc.. Pois entre nós, passa-se o oposto por causa do qual ouço nas
línguas que conheço esta exclamação: “Oh, este truque à portuguesa!”
- Antes de embarcar de regresso a casa, passei no Corte Inglês para
comprar o jantar e um par de sapatos. Acontece que há anos calço modelos da firma
espanhola Massimo Dutti. São caros, mas para coxinho, coitadinho, os ideais
devido ao bom cabedal e à firmeza da alma e dos contrafortes. Contudo, nos
modelos deste ano, para ganhar mais uns patacos à conta do distraído, fizeram o
mesmo modelo mas... de papelão. Atento como sou, logo antevi quedas, entorse do
pé que as meninas osculam e assim. Vai daí mudei de marca mantendo o mesmo
protótipo embora italiano e, bem entendido, mais caro.
- O Público traz três páginas com este título: “Os 12 desafios do novo
Governo.” Depois a gente lê e treslê e diz para os seus botões: “Mas se os
ministros são os mesmos como podem eles realizar agora aquilo que não souberam
ou não puderam realizar nos últimos quatro que estiveram no governo?
- Mas que importância tem tudo isto quando comparado com o progresso
político-social que a Catalunha registou num dia só! Os olhos do mundo estavam
pregados naquele povo indómito. E ele não nos desiludiu. Que relevância têm os
comentários daqueles anciãos que vêm à televisão derramar moral a rodos,
civilidade política a granel, quando olhamos o mundo através da força democrática
dos catalães de Barcelona e regiões limítrofes? Que convergiram em força para a
capital numa revolta idêntica à do povo libanês, melhor dizendo de vários povos contra
os seus respectivos Estados. Sim, por
todo o lado os povos sublevam-se contra os Estados corruptos e são eles deste
modo que salvam a democracia. Barcelona está a ferro e fogo e noutras capitais
do mundo repete-se o mesmo cenário.