Terça 1 de Outubro.
Querem
uma prova que isto dos gazes com efeito de estufa não preocupam ninguém e muito
menos as autarquias? Quando domingo, depois da missa das nove na igreja do
Senhor do Bonfim me refugiei no Café da Casa para tricotar no O Juiz Apostolatos, acontecia na Avenida
Luísa Tody, em pleno centro da cidade Sadina, uma exibição de motares. Os gazes
tóxicos libertados eram tais e tantos, que eu tive de abandonar o meu trabalho
devido ao cheiro nauseabundo e a irritação na garganta. Uma coisa é o folclore
que os políticos aproveitam, outra é a realidade ou melhor a realidades.
- Aquela dondoca de cabelo de palha, que
chegou já a missa decorria, mal se sentou, logo disparou para ir saudar uma
amiga quatro bancos adiante e outra do outro lado da capela. Depois voltou ao
seu lugar, cruzou as pernas e abriu o Facebook para informar decerto as
centenas de amigas da sua religiosidade. É uma católica moderna.
- Ontem, de passagem no Corte Inglês,
subi ao sexto andar para espreitar livros. Antes dei uma vista pelos escaparates
das revistas e deparo com o novo visual da revista Magazine Littéraire. No interior encontrei um artigo de duas
páginas sobre Julien Green que anunciava a versão integral do Diário do autor
de Moira. Excitação. Eu sabia pelo
Francis Vanoverbecque que conhecia Green e, sobretudo, o filho adoptivo Éric
Jourdan, dito Éric Green, que o Journal
global estava à guarda de uma universidade nos EUA com a indicação de só ser
conhecido cinquenta anos após a morte do diarista ou seja em 2048. E depois
murmurei, triste: “Onde estarei eu em 2048, nesta terra não será.” Comprada a
publicação, fui sentar-me no pequeno café do primeiro andar a ler a bomba.
Então percebi pelo articulista, que se
trata do original que Green entregou à sua editora, a Plon, mas tendo o cuidado
de cortar a eito. Que cortes foram esses? Tudo o que dizia respeito à sua vida
sexual, os rapazes que engatava, os prazeres da carne, em suma. Embora ele
nunca tenha escondido a sua homossexualidade, vivia-a sob o rigor dos
mandamentos da Igreja que o interditavam ao prazer da sexualidade que era a sua
entre 1919 e 1940. É essa falta, eu que já li umas três vezes todo o Diário (18
volumes), sentia nas suas páginas. Julien Green diz algures, que só aos 56 anos
se libertou da vida, não digo dissoluta, mas inclinada aos prazeres de
circunstância. Para mim que o estudo há muitos anos, vejo 1956 como o ano em
que conheceu Eric Jourdan; talvez tenha havido entre eles um grande amor que
redundou numa afeição ímpar ao ponto de ele o ter aperfilhado. O volume que vou
ter de comprar (e carregar) no próximo mês em Paris, tem 1348 páginas. Resta, todavia,
outra questão: os originais que estão na América devem conter mais informação,
a menos que os anos de 1919-1940 não estejam no lote confiado à universidade –
mas isso nunca o saberei eu. A não ser que algum leitor meu, mo envie para o
Paraíso onde espero Deus me aguarde... Ainda um pormenor. Que diria o amargurado
escritor ante a avalanche de clero – de cardiais a parcos de aldeia -,
corroídos pelos prazeres do sexo, ou melhor do invencível sexo? Aliás, tenho
uma lista de livros a comprar que 200 euros não chegam! Tudo por culpa do
senhor Gutenberg, cuja estátua está no centro de Estrasburgo, obra de David
d´Angers, 1840, com 4 metros, e a Bíblia imprensa na sua gráfica. Sempre que
por lá passo, saúdo-o reconhecido.
- No comboio, à cunha, uma negra
divertida dizia para outra: “Mais vale andar em Angola de candongueiro.”
- Ontem ao serão, Echappée Belles, passado na Polónia. Eu que visitei Cracóvia no
início deste ano, demorando-me na cidade e arredores dez dias, pude rever os
sítios escolhidos pelo produtor do programa, com encantamento. Fiquei com a
impressão de não me ter escapado nada de importante, eu que apenas me informei
através de livros como costumo fazer sempre que viajo. A Polónia, mormente
Cracóvia, são o país e a cidade onde gostaria de terminar os meus dias. Espero,
sinceramente, que esta grande nação não caia na tentação de entrar no euro – militei
sobre isso por onde andei.
- Eis a razão, entre outras, para os
leitores de Julien Green terem redobrado prazer em o ler.
Le journal de l’écrivain est pour
la première fois présenté dans son intégralité. Les ajouts à la précédente
édition, représentant environ 60 % de texte supplémentaire, révèlent sans
détour la vie intime, amoureuse et sexuelle du grand romancier catholique. Un
secret longtemps dissimulé !
La parution de cette intégrale
est un événement littéraire considérable et donne à ce Journal la pleine
dimension de témoignage quotidien incomparable de ce grand écrivain tout au
long du XXe siècle dans sa presque totalité.
Pour aboutir à ce texte, ont
travaillé de concert Guillaume Fau, conservateur en chef des bibliothèques et
responsable du service des manuscrits modernes et contemporains à la BnF. Avec
lui, Tristan Gervais de Lafon, ayant droit de Julien Green. Magistrat, il est
premier président de la cour d’appel de Montpellier. Enfin, on trouve Alexandre
de Vitry, qui est un ancien élève de l’École normale supérieure de Lyon, agrégé
de lettres modernes et docteur en littérature française de l’université
Paris-Sorbonne.
La volonté de l’ayant droit de Julien
Green et l’accessibilité des manuscrits aujourd’hui déposés à la Bibliothèque
nationale de France (quelque 120 cahiers et liasses) rendent possible, pour la
première fois, une édition intégrale. Le principe retenu pour l’établissement
du texte est le suivant : à chaque fois qu’une coupe ou qu’une réécriture
autre que formelle ou d’ordre esthétique avait été opérée dans le texte du
manuscrit, ou qu’un élément biographique, social, philosophique, anecdotique
avait été modifié, il a été décidé de rétablir le texte original et
l’information que seul il apporte.
Les ajouts, estimés à 60 %
environ en plus du texte publié, constituent la nouveauté de cette édition
intégrale. Ils sont de trois ordres principalement : événements privés et
confidences intimes ; portraits littéraires ; notations journalières propres à
l’écriture diariste manuscrite. La vie amoureuse et sexuelle de Julien Green,
très présente dans le journal manuscrit, et décrite avec force détails, de
façon très explicite, avait été systématiquement omise, autocensurée,
anonymisée et finalement très distanciée dans la version publiée.
Or, la vie sexuelle du jeune
Julien Green, dans le Paris, mais aussi l’Europe et l’Amérique de l’époque, se
trouve documentée de façon totalement inédite par les manuscrits :
rencontres furtives, amants de passage, lieux et pratiques occupent les
journées et les nuits du jeune homme, autant que l’écriture, et c’est tout un
pan de la vie d’un homosexuel de la première partie du XXe siècle qui se trouve
éclairé comme jamais.
À la frénésie quotidienne de la
quête du plaisir succèdent les portraits des amants de passage, certains
devenus réguliers au fil du temps, dont les listes sont scrupuleusement notées
dans les pages liminaires des cahiers, mais aussi le récit cru, sans fard,
pornographique parfois, des rencontres. À ce titre, le Journal intégral de
Julien Green constitue un document humain, existentiel et sociologique
nouveau.
La lecture des manuscrits montre
que les portraits des contemporains de Julien Green, et principalement de ses
confrères écrivains, ont été très remaniés, souvent très réduits, au moment de
la publication du journal. Les ajouts de l’édition intégrale sont autant de
portraits inédits, de grande ampleur et au long cours, de Gide, Mauriac, Cocteau,
Montherlant, Jouhandeau, Malraux... En filigrane, c’est toute la sociabilité
d’une époque qui apparaît, mais perçue sous l’angle de la subjectivité et des
relations personnelles.