quarta-feira, outubro 09, 2019

Quarta, 9.
As viagens de Fertagus com as carruagens apinhadas, toda a sorte gente colada umas às outras, imagem de um projecto (o passe mágico) que começou pelo telhado, é o retrato vivo de um governo. Entre as estações de Corroios e Foros de Amora, vive uma colónia imensa de africanos ou melhor dizendo uma parte de África. Dentro das carruagens, é visível como aquela gente nunca saiu das senzalas, com seus trajes e hábitos de vida, seus odores e sociabilidade. Falam alto, entram de rompam empurrando quem encontram na frente, instalam-se a correr e logo, através do telemóvel, expõem as suas misérias e as suas alegrias. Todos partilhamos de uma linguagem que não entendemos, de esgares acompanhados de gestos largos, sincopados, sons estridentes que nos ferem os ouvidos. Elas escolhem de preferência os lugares reservados aos velhos, deficientes e grávidas. Outro dia, perguntei a uma se era deficiente para estar sentada no lugar a eles reservados. Disse-me que não. Então pedi-lhe que se levantasse, recusou, respondendo-me que tinha chegado primeiro. A mulher que abancava também indevidamente, no caso uma branca, levantou-se e deu-me o lugar. Sentei-me, pois, ao da negra que não parava de falar em crioulo. Perdi a paciência e disse-lhe que era melhor calar-se porque não percebia patavina do que dizia. Chamou-me racista antes de deixar o comboio. Viajar em transportes públicos é não só revigorante como excitante. E lembrar-me eu que passei toda a vida ao lado destas voluptuosidades!

         - Trump como se desse ordens a um construtor que deixou de lhe interessar, ordenou ao exército que deixasse os Curdos que o ajudaram a combater os guerrilheiros do Daesh, às garras de Erdogan. Que prontamente iniciou os combates contra os vizinhos indesejáveis. Já quando eu visitei a Turquia, há quase vinte anos, era proibido fazer qualquer pergunta sobre aquele povo orgulhoso e corajoso. O que se segue para a Europa e Síria é previsível.

         - Computo final das desgraçadas eleições: abstenção: 45,50%! Se juntarmos os votos em branco: 2,54% e os nulos: 1,74% temos o resultado de um país divorciado da democracia e dos políticos, isto é, metade da população.

         - Acabei a releitura do diário aldrabado de Julien Green, L´avenir n´est à personne. 3 de Junho de 1992, anota: “Le Danemark refuse de faire partie de l´Europe, la Norvège de même. La Terre, dernières précisions neuf cents millions d´êtres humains au-dessous du seuil de la pauvreté, cent millions d´Africains mourant de fain. Dans vingt ans, les quatre-vingt dix pour cent du Tiers-Monde envahiront... le reste.” (pág. 384 Fayard) ) É o que está a acontecer. 


         - Esta constatação de Fr. Bento Domingues, no Público de domingo que assino de cruz: “Quando se afirma que a Bíblia é palavra de Deus, importa não esquecer que se trata de uma metáfora para dizer que aquela literatura, sem a referência ao Deus sem nome, seria impossível.”