Quinta, 24.
Esta manhã foi muito engraçado. Quando
saí no Chiado, estando ali o elevador, entrei nele já cheio: portugueses e
estrangeiros. As portas fecharam-se e durante um minuto que me pareceu uma
eternidade, ali ficámos a olhar uns para os outros sem saber o que se passava.
Foi quando eu me lembrei de premir o botão -1 e logo a máquina por magia se pôs
a subir. Os estrangeiros refilaram: “Ah, é à portuguesa!” Queriam eles dizer a bizarrice.
- O que terá dado a António Costa para me vir oferecer a meio da noite
um par de canetas Rotring? Digo-lhe que não preciso porque não desenho nem
trabalho em áreas que requeiram esses instrumentos. Ele responde-me que tenho
de as aceitar, porque as posso usar na escrita dos meus romances que diz
apreciar muito. Acordo, sorridente. Quer dizer acordo dentro do sono
desconfiado que é mais uma magia e digo-lhe que é muito simpático, mas não sei
se é sincero. Ri-se naquele sorriso que lhe conhecemos e adianta: “Desta vez
estou a falar verdade. Tome lá as canetas.” Como eu, desconfiado, as continuava
a recusar, atirou-mas à cara e desapareceu.
- Um camião com 39 corpos um de criança, foram encontrados a meio da
noite num reboque frigorífico perto de Londres. Os infelizes eram de
nacionalidade chinesa o que julgo ser raro. Afinal a ditadura do senhor Jinping
ping ping que possui mais capitalistas que a América, também não deixa outra
alternativa aos pobres senão imigrar. A menos que os 39 mártires tenham fugido
da sua figura de déspota. Esta é outra imagem sinistra do nosso mundo.