terça-feira, março 13, 2018

Terça, 13.
Noite agitada. Vindo não sei de que lugar, chegava-me o momento em que Rui Gonçalves iria conhecer a traição de Lúcia com o banqueiro Pimentel da Gaia. Depois, esta manhã, sentado à minha mesa de trabalho, rememorei o que o sonho me havia ditado e o resultado desse instante resultou neste parágrafo:

         Rui Gonçalves vinha a sair da casa de banho, nu, o corpo garboso enxuto, rejuvenescido e sensual. Lúcia, paralisou, fascinada. Olhava-o como o vira da primeira vez quando o tomou por inteiro na avidez de o possuir. Esse momento, estava como que tatuado na sua mente, no seu corpo de mulher que conhece a impregnação dos instantes eternos, que marcam o destino dos amantes sufragados pela luz clara das noites sem fim. Num lapso de segundo, os dois olharam-se, olhos nos olhos, balanceando no desejo que não consente a traição, mas é capaz de subjugar o corpo e esquecer o adultério. “

         - Passei na Fnac do Chiado. Varrendo com vagar os escaparates, dou com uma tradução da obra que estou a reler (em francês) de Marco Aurélio, pensées pour moi-même, que (penso) acaba de sair. Possuo uma outra tradução para português, da Relógio d`Água, com o título Pensamentos. Esta que ontem descobri, tem um título com o qual estou mais de acordo: Meditações. Contudo, à boa maneira dos nossos editores, tanto uma como outra, não trazem notas que orientem o leitor que queira conhecer em profundidade a obra e o autor, a época e as correntes filosóficas em que ele se apoia – e são muitas. É por esta e por muitas outras, que eu prefiro a seriedade e a cultura editorial dos franceses. Em Portugal, onde ninguém tem dinheiro e aos escritores lhes é pedido somas astronómicas para serem editados, o importante é lançar obras desamparadas no mercado. O lucro imediato e com o mínimo de investimento, tem outro sabor.  


         - Há duas semanas que sofro de dores horríveis na zona lombar esquerda em consequência dos trabalhos que empreendi no corte do mato. Mas esta manhã, decidi enfrentar o lobo e cortei um anti-inflamatório por metade que o Tó me receitou há anos quando uma dor no joelho ronceiro me afligia e o médico dito de família me sentenciou um medicamento “para o resto da vida”. Então, como hoje, a meio da manhã, já não padecia do mal. Vou tomar a outra metade depois do jantar. Se me levantar sem problemas amanhã, não toco mais no veneno. O meu amigo médico, se me ouvisse, diria como costumava dizer: “Helder, pelo menos mais dois dias.” Bendito Tó que me aturou, sendo eu um doente que negoceio tudo com os médicos. O facto é que, acabo de encostar a roçadora depois de uma hora de trabalho e... sem dores!