Terça,
13.
Noite
agitada. Vindo não sei de que lugar, chegava-me o momento em que Rui Gonçalves
iria conhecer a traição de Lúcia com o banqueiro Pimentel da Gaia. Depois, esta
manhã, sentado à minha mesa de trabalho, rememorei o que o sonho me havia
ditado e o resultado desse instante resultou neste parágrafo:
“Rui
Gonçalves vinha a sair da casa de banho, nu, o corpo garboso enxuto,
rejuvenescido e sensual. Lúcia, paralisou, fascinada. Olhava-o como o vira da
primeira vez quando o tomou por inteiro na avidez de o possuir. Esse momento,
estava como que tatuado na sua mente, no seu corpo de mulher que conhece a
impregnação dos instantes eternos, que marcam o destino dos amantes sufragados
pela luz clara das noites sem fim. Num lapso de segundo, os dois olharam-se,
olhos nos olhos, balanceando no desejo que não consente a traição, mas é capaz
de subjugar o corpo e esquecer o adultério. “
- Passei na
Fnac do Chiado. Varrendo com vagar os escaparates, dou com uma tradução da obra
que estou a reler (em francês) de Marco Aurélio, pensées pour moi-même, que (penso) acaba de sair. Possuo uma outra
tradução para português, da Relógio d`Água, com o título Pensamentos. Esta que ontem descobri, tem um título com o qual
estou mais de acordo: Meditações.
Contudo, à boa maneira dos nossos editores, tanto uma como outra, não trazem
notas que orientem o leitor que queira conhecer em profundidade a obra e o
autor, a época e as correntes filosóficas em que ele se apoia – e são muitas. É
por esta e por muitas outras, que eu prefiro a seriedade e a cultura editorial dos
franceses. Em Portugal, onde ninguém tem dinheiro e aos escritores lhes é
pedido somas astronómicas para serem editados, o importante é lançar obras
desamparadas no mercado. O lucro imediato e com o mínimo de investimento, tem
outro sabor.
- Há duas
semanas que sofro de dores horríveis na zona lombar esquerda em consequência
dos trabalhos que empreendi no corte do mato. Mas esta manhã, decidi enfrentar
o lobo e cortei um anti-inflamatório por metade que o Tó me receitou há anos
quando uma dor no joelho ronceiro me afligia e o médico dito de família me
sentenciou um medicamento “para o resto da vida”. Então, como hoje, a meio da
manhã, já não padecia do mal. Vou tomar a outra metade depois do jantar. Se me
levantar sem problemas amanhã, não toco mais no veneno. O meu amigo médico, se
me ouvisse, diria como costumava dizer: “Helder, pelo menos mais dois dias.”
Bendito Tó que me aturou, sendo eu um doente que negoceio tudo com os médicos. O
facto é que, acabo de encostar a roçadora depois de uma hora de trabalho e...
sem dores!