Sábado,
3.
Eu
falo com frequência com os franceses que se instalaram em Azeitão. Nenhum deles
acredita nos números da economia portuguesa e eu em primeiro. Se me fosse
permitido testemunhar com nomes o que sei das manobras do INE, impostas por
quase todos os governos, de Sócrates a este, outro galo cantaria. Assim, de
tempos a tempos, chegam-se à ribalta instituições privadas sem influências
partidárias ou interesses suspeitos, como o Centro de Investigação e Estudos de
Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, para repor a verdade dos
factos. E estes são aterradores, se tivermos em conta que contrariam – e de que
maneira! – os números do Mágico. Este diz, por exemplo, que o desemprego se
situa em 8,5%, enquanto o CIES atira com 17,5%. Dir-me-ão é uma questão de
cozinha, da forma como as estatísticas são apresentadas ou manobradas. Sem
dúvida. Estamos habituados a isso. Agora o que nos surpreende, é o facto de o
mundo do trabalho se encontrar desmotivado, desencorajado, com salários ao
nível de há dez anos, o subemprego que deve andar pelos 30 por cento da massa
laboral, os inativos, os jovens que procuram o primeiro emprego. Muita desta
gente nem sequer conta para a taxa de desemprego, pura e simplesmente não
existe para o Estado. E como a imposição, há muito trabalhada, vai no sentido
do emprego precário - só no privado ronda já 30 por cento -, esta vai de par
com níveis de protecção social quase inexistentes. De resto, basta andar cá por
baixo, para ver o que por aí vai, quanto a sociedade dos anónimos cidadãos
sofre com impostos elevados e arrogantes, o custo de vida, a inacessibilidade a
bens de primeira necessidade, a pobreza que não diminuiu.
- A nível mundial estamos à espera que
um louco qualquer abra a Caixa de Pandora. Putin, o ditador disfarçado de
democrata como tantos outros que chefiam este mundo infeliz, no discurso de duas
horas!! à nação, só falou do programa nuclear em que se apoia. Disse coisas
assustadoras com o ar de quem informa dos métodos de construção duma
auto-estrada. Um míssil que pode percorrer um vasto espaço sem ser
interceptado, outro míssil de cruzeiro de baixa altitude difícil de detectar,
com uma carga nuclear capaz de arrasar a Europa e invencível ante “os actuais e
futuros sistemas de defesa de misseis aéreos e terrestres” e para que não
tenhamos dúvidas, encerrou a lengalenga dos horrores com esta garantia: “Não é
bluff.”
- Ontem, no Fertagus a caminho de
Lisboa, à minha volta, na carruagem a abarrotar, não havia um único passageiro
que não estivesse à manjedoura do telemóvel. Voilà o mundo maravilhoso dos nossos dias. Um mundo de alienados.
- A desistência é uma forma de
despedida.