Sexta, 16.
É sempre triste ver partir alguém que nos deixou a sua marca
indelevelmente registada na forma como viveu. Falo do desaparecimento de
Stephen Hawking que nos pedia para nunca deixarmos de olhar o céu estrelado. Toda
a existência circunscrito a uma cadeira de rodas devido a esclerose lateral amiotrófica,
descoberta aos 21 anos, acompanhada do veredicto médico de que não viveria mais
do que três primaveras, morreu há três dias com 67 anos. Deixou-nos o exemplo
de uma vida plena, com filhos, livros, carreira científica e universitária. Embora
não falasse senão através do computador que seguia com ele para todo o lado,
foi a sua coragem, a capacidade de vencer os obstáculos que a doença lhe impôs,
que mais me marcaram a mim que desde sempre encarei as minhas limitações como
um desafio. O firmamento onde em vida pousou os seus olhos curiosos, seja para
sempre a eternidade de um ser humano excepcional.
Hawking antes da doença |
Nos derradeiros dias de vida |
- Pedibus cum jambis, debaixo de
chuva, fui do Marquês de Pombal à minha muito cara Rua da Artilharia Um para
deixar o dossier de protesto pela factura da água que não consumi. Dali subi ao
Amoreiras e todo o percurso foi a rememoração de uma vida passada por aquelas
bandas, pelo menos 30 anos. Muita coisa mudou, lojas fecharam ou foram
substituídas, alguns restaurantes novos, todavia alguma coisa permaneceu para
me receber como viajante perdido pelo mundo e de súbito reencontrado para
alegria minha e dos que saudei. Senti saudades desse tempo? Para ser sincero,
sim. Uma nuvem obscureceu o meu olhar, tocou o meu coração, aproximou os dias
de glória a par dos de tristeza, aflições e noites mal dormidas trazendo-me
aquele outro jovem adormecido no homem que há em mim e goza os derradeiros anos
antes da partida para a viagem definitiva.
Entrado no
Amoreiras mais acima, andei por todo o lado a ver se reconhecia os restaurantes
que frequentava quase todos os dias, mas só encontrei intacto o Madeirense e o
Mcdonald, o minúsculo balcão que vende comida feita para casa, e pouco mais.
Todo o primeiro andar é uma desordem, longos espaços formando esplanadas
cobertas, uns a seguir aos outros, sem aquele charme que havia antes com
reserva para quem a dois quisesse namorar e eu namorei muito por lá. Felizmente,
quando a nostalgia caía implacável sobre mim, encontrei o Paulo Santos que ali
fora também por acaso. Sentámo-nos num café por minutos, logo deixando-o sem
paciência para as filas como agora é moda em Lisboa, num país necessitado de
empregos. Abancámos num outro mais exposto a quem passava onde ficámos à
conversa. Pelas 17,30 fomos buscar a Catherine ao Cais do Sodré que aí trabalha
com responsabilidades de topo ao nível da nossa desformosa UE. Juntos fomos à
exposição do Rocha Pinto.