sexta-feira, março 16, 2018

Sexta, 16.
É sempre triste ver partir alguém que nos deixou a sua marca indelevelmente registada na forma como viveu. Falo do desaparecimento de Stephen Hawking que nos pedia para nunca deixarmos de olhar o céu estrelado. Toda a existência circunscrito a uma cadeira de rodas devido a esclerose lateral amiotrófica, descoberta aos 21 anos, acompanhada do veredicto médico de que não viveria mais do que três primaveras, morreu há três dias com 67 anos. Deixou-nos o exemplo de uma vida plena, com filhos, livros, carreira científica e universitária. Embora não falasse senão através do computador que seguia com ele para todo o lado, foi a sua coragem, a capacidade de vencer os obstáculos que a doença lhe impôs, que mais me marcaram a mim que desde sempre encarei as minhas limitações como um desafio. O firmamento onde em vida pousou os seus olhos curiosos, seja para sempre a eternidade de um ser humano excepcional.

Hawking antes da doença


Nos derradeiros dias de vida 

         - Pedibus cum jambis, debaixo de chuva, fui do Marquês de Pombal à minha muito cara Rua da Artilharia Um para deixar o dossier de protesto pela factura da água que não consumi. Dali subi ao Amoreiras e todo o percurso foi a rememoração de uma vida passada por aquelas bandas, pelo menos 30 anos. Muita coisa mudou, lojas fecharam ou foram substituídas, alguns restaurantes novos, todavia alguma coisa permaneceu para me receber como viajante perdido pelo mundo e de súbito reencontrado para alegria minha e dos que saudei. Senti saudades desse tempo? Para ser sincero, sim. Uma nuvem obscureceu o meu olhar, tocou o meu coração, aproximou os dias de glória a par dos de tristeza, aflições e noites mal dormidas trazendo-me aquele outro jovem adormecido no homem que há em mim e goza os derradeiros anos antes da partida para a viagem definitiva.


          Entrado no Amoreiras mais acima, andei por todo o lado a ver se reconhecia os restaurantes que frequentava quase todos os dias, mas só encontrei intacto o Madeirense e o Mcdonald, o minúsculo balcão que vende comida feita para casa, e pouco mais. Todo o primeiro andar é uma desordem, longos espaços formando esplanadas cobertas, uns a seguir aos outros, sem aquele charme que havia antes com reserva para quem a dois quisesse namorar e eu namorei muito por lá. Felizmente, quando a nostalgia caía implacável sobre mim, encontrei o Paulo Santos que ali fora também por acaso. Sentámo-nos num café por minutos, logo deixando-o sem paciência para as filas como agora é moda em Lisboa, num país necessitado de empregos. Abancámos num outro mais exposto a quem passava onde ficámos à conversa. Pelas 17,30 fomos buscar a Catherine ao Cais do Sodré que aí trabalha com responsabilidades de topo ao nível da nossa desformosa UE. Juntos fomos à exposição do Rocha Pinto.