Quarta,
21.
Um
dia como o de hoje, sobretudo quando saímos de um tempo de trevas, enche-nos de
alegria. O campo lavado, purificado pelos ventos, quando a luz cai nele
acorda-o do longo inverno e sacode-nos a nós seus habitantes da letargia em que
os dias cinzentos nos mergulharam. Andei a podar as cepas (poucas) que ainda
restam e terminei a poda das hortênsias. Devia ter prosseguido com a roçadora o
corte da erva daninha que as últimas chuvas fizeram brotar do chão
desordenadamente, mas temo nova recidiva de dores lombares, de forma que vou retardar
essa tarefa. Sem esquecer que nesta altura do ano o trabalho não falta e muitas
outras empreitadas me esperam. As manhãs e o início das tardes são
religiosamente consagradas à escrita e à leitura. Vivo neste colete organizacional
e muitas vezes sinto-me cansado por não abrandar e deixar que este ritmo de
trabalho tenha fios de tempo para o simples dolce
far niente.
- O relatório independente sobre os
incêndios do Verão passado, foi enfim conhecido. Dispara em todas as direcções:
Estado, autarquias, EDP, GNR, sistemas de comunicação, etc., etc.. Ninguém sai
incólume, todos são responsáveis das cento e tal mortes. A rainha de todas as
mães do CDS, prega escondendo com as suas palavras aldrabadas a sua parte em
mais eucaliptos. Outras mortes se seguiram entretanto como oliveiras e
carvalhos centenários, figueiras e pinheiros... Ninguém até à data foi responsabilizado
– e esse é o desastre maior deste pobre país. O próximo Verão que venha e com
ele novos fogos. Infelizmente é isso que vai acontecer. O sistema e as pessoas
não mudaram e trabalham em pescadinha. A grande reforma devia ser acabar com
este insuportável esquema – todos comem do mesmo tacho.