Terça,
7.
No
registo da existência dos homens, as calamidades foram sempre uma constância.
Como prova a presente tragédia com o número de infectados no mundo pela
Covid-19 a atingir 1.252.265. Destes estão 256.059 recuperados; 67.999 mortos.
Em Portugal: 11.278 atingidos; 295 mortes; 75 recuperados. Por todo o lado,
salvo nos EUA, os novos casos tendem a diminuir. Ou antes são um alívio, uma
esperança enquanto não voltam a aumentar.
- Há quem ache que a história do coronavírus
como criação chinesa, é teoria de conspiração. Pois sim. Todavia, eu já ouvi
cientistas levantar essa hipótese. Mesmo que seja mentira, como se explica que
o ditador Xi Jinping ping ping tenha ameaçado a médica que o detectou, depois o
médico e por fim os primeiros doentes? Não está implícito no seu gesto uma
ordem de espalhar o vírus contra a opinião cientificada dos médios? Isto não
prova que ele tinha interesses em disseminar a epidemia? Como se chama um tipo
que procede desta forma? Dou eu a resposta: criminoso e perverso. E uma matança
desta à escala interplanetária só é possível num país dominado, espezinhado por
um ditador e suas forças armadas que o sustém.
- Pobres e ricos estão sob a ameaça do
mesmo inimigo. Mas enquanto os primeiros conformam-se com a realidade e vivem
em consonância; os segundos vivem numa depressão aflitiva. Uns querem o
essencial da vida; outros lutam por não perder o muito que alcançaram. Uns são
livres; outros prisioneiros da sua ambição. Uns vivem com o que têm; outros com
o excesso. Se a todos vier a faltar o essencial, são os ricos que se suicidam
em cadeia. Cito António Caeiro: “Só quem é intrinsecamente livre sobrevirá,
quem quis ter coisas pode perceber que é pobre. Só o espírito nos salva.”
- De referência em referência, recordo
estas palavras de um filósofo que estimo, Walter Osswal, 91 nos: “A reflexão
sobre esta experiência (a nossa vida presente) deve conduzir a novas perspectivas
sobre a realidade e à forma como desejamos viver a vida, a vida boa que
Aristóteles e Ricoeur se esforçaram por definir. Fechado o capítulo da
pandemia, seria irresponsável fazer tábua rasa do sofrimento, dor e prejuízo
para retornarmos os velhos hábitos, a anemia social, o individualismo
exacerbado, a tentação do domínio total das forças da natureza, o cientismo
acrítico.”
- Partilho inteiramente desta opinião,
deste sentir filosófico, desta fonte de vida vivida. Mas quer-me parecer que
passada a confinação ou isolamento, nenhuma lição permanecerá. Os sistemas
económicos-financeiros, os ideais que sustentam a ambição, o consumo, o espaço
entre ricos e pobres vão acentuar-se ainda mais. Sou pessimista porque tenho o mau
hábito de ser livre e enquanto tal observar de todos os ângulos a marcha veloz da
desigualdade. Dou um exemplo simples. Quando das eleições em que as abstenções
passaram dos 60 por cento, levantou-se um coro unânime alertando para a
desconfiança dos portugueses relativamente à política e aos políticos. Estes
teceram durante uma semana laudas de culpas, disseram que era preciso mudar
tudo de alto abaixo para que a democracia vingasse. Uma semana depois,
silêncio. A ronceirice, a “anemia social”, instalou-se e o país assiste
indiferente ao espectáculo confrangedor em que se transformou a nossa via
colectiva.
- Escrevo aqui para aliviar a
frustração de não estar a trabalhar no romance.