terça-feira, abril 07, 2020

Terça, 7.
No registo da existência dos homens, as calamidades foram sempre uma constância. Como prova a presente tragédia com o número de infectados no mundo pela Covid-19 a atingir 1.252.265. Destes estão 256.059 recuperados; 67.999 mortos. Em Portugal: 11.278 atingidos; 295 mortes; 75 recuperados. Por todo o lado, salvo nos EUA, os novos casos tendem a diminuir. Ou antes são um alívio, uma esperança enquanto não voltam a aumentar.

         - Há quem ache que a história do coronavírus como criação chinesa, é teoria de conspiração. Pois sim. Todavia, eu já ouvi cientistas levantar essa hipótese. Mesmo que seja mentira, como se explica que o ditador Xi Jinping ping ping tenha ameaçado a médica que o detectou, depois o médico e por fim os primeiros doentes? Não está implícito no seu gesto uma ordem de espalhar o vírus contra a opinião cientificada dos médios? Isto não prova que ele tinha interesses em disseminar a epidemia? Como se chama um tipo que procede desta forma? Dou eu a resposta: criminoso e perverso. E uma matança desta à escala interplanetária só é possível num país dominado, espezinhado por um ditador e suas forças armadas que o sustém.

         - Pobres e ricos estão sob a ameaça do mesmo inimigo. Mas enquanto os primeiros conformam-se com a realidade e vivem em consonância; os segundos vivem numa depressão aflitiva. Uns querem o essencial da vida; outros lutam por não perder o muito que alcançaram. Uns são livres; outros prisioneiros da sua ambição. Uns vivem com o que têm; outros com o excesso. Se a todos vier a faltar o essencial, são os ricos que se suicidam em cadeia. Cito António Caeiro: “Só quem é intrinsecamente livre sobrevirá, quem quis ter coisas pode perceber que é pobre. Só o espírito nos salva.”

         - De referência em referência, recordo estas palavras de um filósofo que estimo, Walter Osswal, 91 nos: “A reflexão sobre esta experiência (a nossa vida presente) deve conduzir a novas perspectivas sobre a realidade e à forma como desejamos viver a vida, a vida boa que Aristóteles e Ricoeur se esforçaram por definir. Fechado o capítulo da pandemia, seria irresponsável fazer tábua rasa do sofrimento, dor e prejuízo para retornarmos os velhos hábitos, a anemia social, o individualismo exacerbado, a tentação do domínio total das forças da natureza, o cientismo acrítico.”

         - Partilho inteiramente desta opinião, deste sentir filosófico, desta fonte de vida vivida. Mas quer-me parecer que passada a confinação ou isolamento, nenhuma lição permanecerá. Os sistemas económicos-financeiros, os ideais que sustentam a ambição, o consumo, o espaço entre ricos e pobres vão acentuar-se ainda mais. Sou pessimista porque tenho o mau hábito de ser livre e enquanto tal observar de todos os ângulos a marcha veloz da desigualdade. Dou um exemplo simples. Quando das eleições em que as abstenções passaram dos 60 por cento, levantou-se um coro unânime alertando para a desconfiança dos portugueses relativamente à política e aos políticos. Estes teceram durante uma semana laudas de culpas, disseram que era preciso mudar tudo de alto abaixo para que a democracia vingasse. Uma semana depois, silêncio. A ronceirice, a “anemia social”, instalou-se e o país assiste indiferente ao espectáculo confrangedor em que se transformou a nossa via colectiva.


         - Escrevo aqui para aliviar a frustração de não estar a trabalhar no romance.