sexta-feira, abril 10, 2020

Sexta Feira Santa.
Há tanto jornalista, santo Deus! Mas quase tudo foleiro que me põe a ter pena dos nossos governantes nesta fase difícil da nossa vida colectiva. Marcelo, Costa, Marta Temido e Graça Freitas sujeitam-se a cada cepo! Eles que se esforçam por fazer o melhor, e ainda por cima quase são linchados por esta gente que aproveita a desgraça para grimpar nas redações das televisões e porem a cabeça de fora da panela a bufar como coleópteros. Eu se estivesse no seu lugar, mandava-os àquela parte. Depois, por essa província pobre e esquecida, surge um batalhão de outros que parece são pagos ao minuto e, nessas condições, falam que se fartam, sujeitando as criaturas humildes e honradas à exposição pública das suas vidas martirizadas. Eu, jornalista, se fizesse uma ténue utilização do meu trabalho desta forma ligeira e impreparada como hoje o jornalismo é praticado, não só era despedido como me despejavam a pontapé da redacção.

         - Pelos vistos não estou só na deslavra da plêiade de jornalistas medíocres e de apresentadores de chinelo. O prodigioso jornalista e critico António Guerreiro, no Público de hoje, com este título “O pior ainda está por vir” (imaginando eu que se refere a algum destes cultores da língua) diz o seguinte: “Tem sido um grande momento para surgir à luz os matemáticos alucinados em conluio com o jornalismo do fim do mundo. Tão virulenta como a outra, tem sido a epidemia dos números que este jornalismo nos transmite com um instrumento de profilaxia (enquanto reveladores da “verdade” e sinalizadores de uma mobilização total), sem se importar com o que há neles de asfixia de qualquer outra forma de informação.” Mais adiante: “(...) o cometa foi encerrado por algumas semanas (ou meses, ainda não sabemos) não estamos por isso obrigados a pôr a atitude crítica de quarentena e a nem reparar que, sendo a situação excepcional, a informação poluente que as televisões nos fornecem é uma épica exacerbação desta excepcionalidade que deixa as pessoas sideradas de terror, rendidas ao estribilho: “o pior ainda está por vir.”

         - Agora os economistas que sempre se estiveram nas tintas para o sofrimento humano, estão já em bicos de pés a preparar as ajudas que irão regatear do bolo dos 500 mil milhões de euros que a nossa amantíssima UE, enfim e contrariada, vai pôr à disposição dos seus associados. Há no ar uma espécie de festa, de alegria colectiva para os lados de empresários e financeiros, e conluiados com os nossos impolutos jornalistas, querem romper quanto antes com a quarentena. Felizmente que Costa tem os pés assentes no chão e não entra na dança. De resto, estive a fazer contas: de ontem para hoje tivemos mais 815 infectados; 29 mortes. Portanto, não podemos embarcar nas obsessões do construtor civil que na América é responsável pela rigorosa pandemia que por lá grassa.

         - Estive a carregar os grossos troncos das árvores podadas por metade. Trabalho duro porque tenho de pegar em braços pesados e devastá-los para a fogueira os galhos finos e para a lareira os mais avantajados.  Tenho para algum tempo. Isto porque, tendo dado prioridade ao corte da erva-mato, a roçadora não quis pegar. Tempo melhor, sol. Estive ao telefone com o Carlos Soares, Maria José, o meu sobrinho Nuno, Carlos Neto. Vou assistir a Via-Sacra transmitida do Vaticano. 



Esta nota onde se encobre o olhar coberto pela beleza de um vaso de sardinheiras e os azuis dos azulejos do Manuel Cargaleiro.