Segunda, 6.
Não há dia
nenhum que não receba um vídeo supostamente feito para entreter o tédio deste
mundo súbito de cartuxos forçados. Como são todos construídos para fins que a
mim não diz respeito, vão directos para o caixote do lixo cibernético. À
excepção de um pequeno filme sobre uma imensa babilónia de pássaros, cada um
com seu cantar, que me enviou a Maria José.
- Breves:
Quando
alguém confisca ou açambarca nos supermercados, não está a pensar no seu
semelhante;
Quando
um grupo de pessoas se põe a caminho sem acatar as ordens de permanecer em
casa, está a pôr em risco a vida dos outros;
Quando
os velhos são deixados para trás, é como se lhes déssemos um pontapé para a
cova;
São
cada vez mais os cientistas a falar alto sobre a origem do coronavírus. Alguns
dizem, preto no branco, que pode ter sido criado em laboratório.
- É fundamental descolar da realidade
para melhor a observarmos. Se estamos todos dentro dela pensamos juntos da
mesma maneira e perdemos o espírito critico. Esta é para o Couto que,
felizmente, pensa cada vez mais nos antípodas de mim e com quem estive à
conversa outro dia.
- A propósito das máscaras que estão a
baralhar as pessoas. Usá-las ou não? OMS não as recomenda para toda a gente e
eu compreendo porquê. Entre nós, país de ignorantes e açambarcadores, é fácil
serem interpretadas como defesa total, sendo a partir daí usadas de qualquer
maneira e em desprimor da lavagem das mãos. Não havendo para toda a gente, as
regras até aqui implementadas parecem as mais eficazes desde que respeitadas.
Acresce que a China está a ganhar com a bactéria que criou e fá-lo, muitas
vezes, sem honestidade. Que o diga Espanha, França e Suécia que tiveram de
devolver o produto pago a peso de ouro por estar falsificado.
- Todo o santo dia choveu. Saí para
comprar o jornal (não devemos deixar de ler em papel para que tenhamos uma
imprensa livre e jornalistas competentes e independentes) e voltei em cinco
minutos. A noite passada dormi de uma assentada nove horas. Não contente, tendo
acordado às oito e meia, deixei-me deslizar pelo vale dos lençóis onde
permaneci até às nove e meia. O coronavírus está a atacar a minha energia
habitual. Leio o niilista Schopenhauer e escuto Vivaldi. São 15,14. Sinto-me
protegido pelo manto espesso do silêncio.