segunda-feira, abril 06, 2020

Segunda, 6.
Não há dia nenhum que não receba um vídeo supostamente feito para entreter o tédio deste mundo súbito de cartuxos forçados. Como são todos construídos para fins que a mim não diz respeito, vão directos para o caixote do lixo cibernético. À excepção de um pequeno filme sobre uma imensa babilónia de pássaros, cada um com seu cantar, que me enviou a Maria José.   

          - Breves:
Quando alguém confisca ou açambarca nos supermercados, não está a pensar no seu semelhante; 

Quando um grupo de pessoas se põe a caminho sem acatar as ordens de permanecer em casa, está a pôr em risco a vida dos outros;

Quando os velhos são deixados para trás, é como se lhes déssemos um pontapé para a cova;

São cada vez mais os cientistas a falar alto sobre a origem do coronavírus. Alguns dizem, preto no branco, que pode ter sido criado em laboratório.


         - É fundamental descolar da realidade para melhor a observarmos. Se estamos todos dentro dela pensamos juntos da mesma maneira e perdemos o espírito critico. Esta é para o Couto que, felizmente, pensa cada vez mais nos antípodas de mim e com quem estive à conversa outro dia.  

         - A propósito das máscaras que estão a baralhar as pessoas. Usá-las ou não? OMS não as recomenda para toda a gente e eu compreendo porquê. Entre nós, país de ignorantes e açambarcadores, é fácil serem interpretadas como defesa total, sendo a partir daí usadas de qualquer maneira e em desprimor da lavagem das mãos. Não havendo para toda a gente, as regras até aqui implementadas parecem as mais eficazes desde que respeitadas. Acresce que a China está a ganhar com a bactéria que criou e fá-lo, muitas vezes, sem honestidade. Que o diga Espanha, França e Suécia que tiveram de devolver o produto pago a peso de ouro por estar falsificado.


         - Todo o santo dia choveu. Saí para comprar o jornal (não devemos deixar de ler em papel para que tenhamos uma imprensa livre e jornalistas competentes e independentes) e voltei em cinco minutos. A noite passada dormi de uma assentada nove horas. Não contente, tendo acordado às oito e meia, deixei-me deslizar pelo vale dos lençóis onde permaneci até às nove e meia. O coronavírus está a atacar a minha energia habitual. Leio o niilista Schopenhauer e escuto Vivaldi. São 15,14. Sinto-me protegido pelo manto espesso do silêncio.