Segunda,
20.
Não
me apetece escrever. Se o faço é porque trouxe o computador para a estrada
alcatroada e estou estacionado em frente a Os Potes a seguir o trajecto do
Nespresso que encomendei por telefone. São 14,05. Esta manhã estive a roçar o
mato no jardim. Acordei tarde (7,45) com o rancho das mulheres de Zuckerberg
debaixo da minha janela. Um sol aberto imperava sobre o bacelo já armado em
adulto. Um quarto de hora depois de ter terminado, acabada a gasolina, arrumada
a máquina, escovadas as calças e a camisola, lavadas as mãos, começou a chover
com vontade. Sinto-me ainda apático, desmotivado, com os miolos a pensar no Matricida imobilizado algures num lugar
inacessível. Sei que vai ter três capítulos: Princípio, Partida e Chegada. Mas não estou certo que assim seja, como não
acredito em nada. Se morresse agora, morria na indiferença de tudo, sem mágoas,
e nem o que comecei por acabar me tortura. De todo o modo ninguém sabe o que
deixa para trás, a vida verdadeira começa depois da morte, mas disso não
daremos notícia, os dois mundos nunca se cruzarão. Sou tão frágil e ainda faço
desta miséria força! Ou talvez não seja eu, física e intelectualmente, que
enfrenta os dias, mas uma espécie de vontade enaltecida pelo rumor, pela dor,
pela insatisfação de haver em mim um mundo paralelo em desacordo com o que me
rodeia. Cai cinza do céu pardacento. O latir de um cão no quintal vizinho, é a
única presença viva nesta estrada sem automóveis nem gente. O mundo está
fechado, ninguém parece acreditar que haverá vida daqui a um ano. Tombam do céu
pedregulhos na forma de vociferações, multidões esperam a morte e aos
cemitérios chegam cadáveres solitários testemunhando imperiosamente que vamos
morrer na completa solidão, cumprindo o ciclo enunciado: nasce-se só e só se
morre. A vida foi uma curta viagem, um devaneio, uma ilusão, um sonho por
cumprir... Se Deus existe, só Ele pode
dar sentido e densidade a isto a que chamamos vida e a ressurreição a junção do
corpo e alma numa outra qualquer forma de vida que complete e dê dimensão e
coerência ao Todo. A minha cabeça ferve de (interrompido, o estafeta acaba de
chegar).
- 16 horas e quarenta e seis minutos
de retorno a casa. Ontem, domingo, tendo saído para comprar o jornal, deparei
com um estabelecimento aberto com este curioso nome O Café da Sua Vida. Entrei
de olhos alucinados na máquina de café. Quando o empregado pousou a chávena na
mesa, e dela saiu em golfos o aroma
intenso que não respirava há mais de mês e meio, foi como na história de
Proust, um mundo do passado veio sentar-se a meu lado e da taça irromperam as
recordações das nossas conversas na Brasileira, os instantes felizes nas
esplanadas do Quartier Latin, em Paris, os interiores confortáveis dos cafés de
Viena d´Áustria, de Roma, de Veneza e ainda o ano passado de Cracóvia e Madrid,
assim como as manhãs sossegadas a trabalhar no Café da Casa. Este universo, característico
da Europa, lugar de convívio e ajuntamento de memórias, fazem parte de nós, são
a nossa própria história, e, por isso, o nosso conforto e equilíbrio. Privarmo-nos
dele, é talharmos um pedaço de nós, e reduzirmos as emoções ao vazio dos dias
distanciados das pequenas coisas que são tão importantes ao nosso aconchego
espiritual.
- A entrevista de um tal Manuel Loff
ao Público de ontem, é o exercício típico de uma certa camada
pseudo-intelectual, uma pura idiotice.
- No Brasil já de pede na rua o
regresso ao regime militar, mas com Bolsonaro a comandar a tropa.
- Não gostei de ouvir António Costa
voltar à lengalenga do costume. Aquela de que o PS é o obreiro da boa conduta
do governo na pandemia, é trazer para o discurso político a retaguarda do
partido e, portanto, da politiquice. E injusta. Todos os partidos, à excepção
do Chega, privaram-se das habituais questiúnculas para ajudar Costa e a sua
equipa na difícil tarefa que montou sobre os seus ombros. Além de inútil. Os
factos são o que são. Nada mais a acrescentar.
- Cada vez mais conceituados cientistas
inclinam-se para que o coronavírus tenha sido criado ou manipulado em laboratório
chinês. Um regime tirânico e ditatorial, permite-se tudo. Até aldrabar o número
de mortos como aconteceu recentemente acrescentando mais 1290 (só!) em Wuhan. Aliás,
Emmanuel Macron, o primeiro a falar em guerra, diz que não é “ingénuo” quanto
ao registo de mortes vindos da pátria de Xi Xinping pinp ping. Vou citar o
Presidente francês: “Não sejamos tão ingénuos ao ponto de dizer que eles (Xi e
o seu exército digo eu) foram muito melhores a gerir esta crise. Não sabemos. É
evidente que há coisas que aconteceram e que nós não sabemos.” Está tudo implícito
nestas palavras.
- Hugues que vive a Taipé, e não dava
notícias pelo menos há dez anos, mandou-me um e-mail inquieto pela minha saúde.
Respondi que estava bem e o meu país um exemplo em matéria de defesa dos seus
cidadãos. Mas ele replicou: “Aqui nenhum confinamento. Menos de 400 infectados
e apenas 6 mortos, num país com 23 6000 000 habitantes.