Sexta,
3.
Os
números da pandemia são já impressionantes: mais de milhão de casos confirmados
no mundo e ainda a bicha não chegou em força a África, Índia, Brasil. O
grandalhão fanfarrão construtor civil e Presidente dos Estados Unidos, que é um
triste imbecil, julgava que podia fazer frente a um minúsculo ser de
laboratório e tramou-se; é ele que lhe morde o corpo todo e principalmente o juízo
e a arrogância. No espaço de duas semanas, 6,6 milhões de norte-americanos
pediram o subsídio de emprego, batendo assim o recorde e superando mesmo os
registos da Grande Depressão, de 1930. Neste momento os desempregados passam de
12 por cento. Os EUA têm 238.820 caos confirmados de coronavírus e mais de 52
mil pessoas morreram. Eis a obra do demagogo. Ele e o mundo capitalista,
julgavam que tinham vencido a morte, que o homem iria com a ajuda da ciência
viver mais de um século e alguns vaticinavam para breve a eternidade na terra.
Os chineses desafiaram a Natureza, esta respondeu-lhes impondo o seu lugar no
contexto do Todo.
- António Costa e Marcelo decidiram
prolongar ou este para os puristas, o Estado de Emergência por mais quinze
dias. Foi uma boa medida, sobretudo quando acompanhada de várias outras
restrições devido, sobretudo, à Semana Santa: libertar os presos com problemas
menos graves, fechar aeroportos, proibir ajuntamentos de mais de cinco pessoas,
travar greves, dar poder a Inspecção de Trabalho para impedir despedimentos,
deslocações fora do concelho de residência, entre outros. O primeiro-ministro
continua sólido à proa do barco.
- Antes detestava ir ao supermercado, mas
neste tempo de confinamento forçado vou com muito prazer e alegria. Normalmente
abasteço-me uma vez por semana e aproveito para o fazer conduzindo até ao Auchan
de Setúbal onde encontro os produtos franceses que gosto. Foi o que fiz esta
manhã. Parecia que tinha estado um horror de tempo preso e aquela liberdade tinha
de ser gozada em pleno. Cantava ao volante, saudava como se fosse o papa deste
concelho toda a gente que encontrava, ria à vida que lambujava as fachadas dos
prédios, sorria aos poucos condutores que se cruzavam comigo, deitava a língua
de fora ao coronavírus. Só não satisfiz este desejo louco de tomar café num
café. Tenho em casa Nespresso, mas a bica naquele ambiente de convívio sabe
melhor, tem o sabor dos tempos das melodias ligeiras, dos olhares convidativos,
dos apelos à dança, dos corpos empinocados, do rumor do cio transitando doido
no sangue, dos imprevistos, das voltas e reviravoltas nas esplanadas como
pontos de observação de um mundo que finou-se.
- Tenho aqui dois potentes antídotos
contra a Covid-19: sol e citrinos ou seja vitamina D e C. Hoje estive a ler em shorts, mangas arregaçadas e chapéu de
palha na cabeça, lá fora. Nas minhas costas, as janelas da casa abertas de par
em par, de modo a expulsar a bicharada inconveniente. O sol era quente a
compensar-nos do frio estranho dos últimos dias. Não cheguei a dormitar, porque
a minha cabeça passeava desordenada pela Filosofia que a mim me tem ensinado a
pensar e a viver. Ante esta tragédia, socorro-me dos meus mestres: Sócrates,
Platão, Plotino, Cícero, Montaigne, Espinosa, Pascal, Nietzsche (pouco),
Goethe, Schopenhauer e mais recentemente Pierre Hadot, Luc Ferry e ainda a
noite passada Comte-Sponville. Estes são os meus mestres, aqueles que peço
ajuda em momentos mais complicados, embora seja no Novo Testamento que encontro
a mais pura e sólida concordância com a sagesse
que procuro.