sexta-feira, abril 03, 2020

Sexta, 3.
Os números da pandemia são já impressionantes: mais de milhão de casos confirmados no mundo e ainda a bicha não chegou em força a África, Índia, Brasil. O grandalhão fanfarrão construtor civil e Presidente dos Estados Unidos, que é um triste imbecil, julgava que podia fazer frente a um minúsculo ser de laboratório e tramou-se; é ele que lhe morde o corpo todo e principalmente o juízo e a arrogância. No espaço de duas semanas, 6,6 milhões de norte-americanos pediram o subsídio de emprego, batendo assim o recorde e superando mesmo os registos da Grande Depressão, de 1930. Neste momento os desempregados passam de 12 por cento. Os EUA têm 238.820 caos confirmados de coronavírus e mais de 52 mil pessoas morreram. Eis a obra do demagogo. Ele e o mundo capitalista, julgavam que tinham vencido a morte, que o homem iria com a ajuda da ciência viver mais de um século e alguns vaticinavam para breve a eternidade na terra. Os chineses desafiaram a Natureza, esta respondeu-lhes impondo o seu lugar no contexto do Todo.  

         - António Costa e Marcelo decidiram prolongar ou este para os puristas, o Estado de Emergência por mais quinze dias. Foi uma boa medida, sobretudo quando acompanhada de várias outras restrições devido, sobretudo, à Semana Santa: libertar os presos com problemas menos graves, fechar aeroportos, proibir ajuntamentos de mais de cinco pessoas, travar greves, dar poder a Inspecção de Trabalho para impedir despedimentos, deslocações fora do concelho de residência, entre outros. O primeiro-ministro continua sólido à proa do barco.

         - Antes detestava ir ao supermercado, mas neste tempo de confinamento forçado vou com muito prazer e alegria. Normalmente abasteço-me uma vez por semana e aproveito para o fazer conduzindo até ao Auchan de Setúbal onde encontro os produtos franceses que gosto. Foi o que fiz esta manhã. Parecia que tinha estado um horror de tempo preso e aquela liberdade tinha de ser gozada em pleno. Cantava ao volante, saudava como se fosse o papa deste concelho toda a gente que encontrava, ria à vida que lambujava as fachadas dos prédios, sorria aos poucos condutores que se cruzavam comigo, deitava a língua de fora ao coronavírus. Só não satisfiz este desejo louco de tomar café num café. Tenho em casa Nespresso, mas a bica naquele ambiente de convívio sabe melhor, tem o sabor dos tempos das melodias ligeiras, dos olhares convidativos, dos apelos à dança, dos corpos empinocados, do rumor do cio transitando doido no sangue, dos imprevistos, das voltas e reviravoltas nas esplanadas como pontos de observação de um mundo que finou-se.


         - Tenho aqui dois potentes antídotos contra a Covid-19: sol e citrinos ou seja vitamina D e C. Hoje estive a ler em shorts, mangas arregaçadas e chapéu de palha na cabeça, lá fora. Nas minhas costas, as janelas da casa abertas de par em par, de modo a expulsar a bicharada inconveniente. O sol era quente a compensar-nos do frio estranho dos últimos dias. Não cheguei a dormitar, porque a minha cabeça passeava desordenada pela Filosofia que a mim me tem ensinado a pensar e a viver. Ante esta tragédia, socorro-me dos meus mestres: Sócrates, Platão, Plotino, Cícero, Montaigne, Espinosa, Pascal, Nietzsche (pouco), Goethe, Schopenhauer e mais recentemente Pierre Hadot, Luc Ferry e ainda a noite passada Comte-Sponville. Estes são os meus mestres, aqueles que peço ajuda em momentos mais complicados, embora seja no Novo Testamento que encontro a mais pura e sólida concordância com a sagesse que procuro.