Sábado,
11.
Mas
onde vai a UE buscar tanta massa!? 500 mil milhões é obra! Eu bem sei que neste
mundo de faz-de-conta tudo é fantasia, virtual, cagança. O BCE terá algum, mas
nada que se compare com o montante oferecido. Então, se bem compreendi, a União
Europeia vai endividar-se pedindo a este e àquele, naturalmente com juros
repartidos por aqueles que lhe requererem ajuda. Imagino os países mais pobres
como Portugal, Itália, Espanha, por um larguíssimo período de longos anos a
pagar com língua de fora o que o coronavírus lhes levou. E as consequências
tristes para os povos: desemprego, baixos salários, miséria e o fosso entre
ricos e pobres sempre mais cavado. Claro
que muitos dirão que não será bem assim, a mania que este tipo tem de se pôr a
pensar. Mas a verdade não sairá desta rede apertada, ainda que os portugueses
se esforcem por trabalhar e viver no limite da existência; os ricos aproveitam
para enriquecer ainda mais, na leva dos ordenados baixos e humilhações latejantes
sem precedentes depois da Segunda Grande Guerra.
- Agora, com tanto dinheiro, há uma coisa
que eu sei ou desejaria: que os médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar do SNS,
passada esta calamidade, deviam ter um bónus de dois meses de ordenado, sem
descontos, limpos e que António Costa, Marta Temido e Graça Freitas deviam ser condecorados
pelo Chefe de Estado que, por sua vez, se agraciaria como fez Napoleão I medalhando-se
a si próprio e digo isto em perfeito juízo e seriamente.
- Quando fui abastecer o meu pequeno
jerricã ao posto de gasolina da vila, estava um grupo de rapazes e homens
maduros maltrapilhos a bebericar café na rua. Perguntei à funcionária se servia
café e jornais e ante a afirmativa comprei o Público e pedi uma bica. Não me
chamando João Corregedor que bebe vinte chávenas por dia, mas tendo antes de
sair de casa tomado um Nespresso, não resisti à tentação de um café de máquina
coisa que não saboreava há quase mês e meio. Mas saí desiludido. Aquilo era uma
água chilra, num lugar pindérico, no fundo do copo de plástico, por dá cá
sessenta cêntimos. O grupo dos sem-abrigos quando me aproximei, abriram alas
reverendíssimos como se eu fosse Marcelo naquele seu jeito descontraído com
guarda-costas à ilharga. Ou o pequenote Sarkosy quando insultava os franceses protegido
por um escol da polícia.
- A roçadora não gosta de tintol requentado. Assim que lhe dei o Beaujolais nouveau, em duas tentativas, pôs-se em marcha. Metade do jardim ficou limpo a seguir ao almoço. Depois seguiram-se duas horas de leituras – jornais e Woolf – e o atendimento diário dos amigos que telefonam: Gi (minha sobrinha), João Corregedor, Marília, Fortuna. Beleza das cerimónias ontem da Praça do Vaticano vazia: Imagens belas, nuas, intensas, encostadas à tradução da Paixão de Jesus. Marcantes textos escritos por homens e mulheres detidos na cadeia por assassinato. Sol. Tempo quente qb, dia quase perfeito. E a memória celebrada em oração por aquelas e aqueles que sofrem, que morreram e por todos os outros que estão ao serviço da dor e do sofrimento: médicos, enfermeiros, ajudantes, bombeiros, jovens voluntários, políticos... 16 horas e cinquenta minutos. O cuco não pára de cantar. Saberá ele que hoje é Sábado de Aleluia?