domingo, abril 12, 2020

Domingo, 12.
Nunca a defesa do SNS foi tão apaixonante e premente. Que seria dos 16 mil doentes que os hospitais receberam e trataram, e tratam, gratuitamente, até hoje da Covid-19. Doentes que estiveram e estão nas mãos de profissionais dedicados, humanos, dando a vida não pelo salário ao modo dos obsessivos gestores privados, mas pelo dever, o outro enquanto ser humano, irmanado no jogo desigual da vida e da morte. Se falo disto, é para arrastar os meus leitores e se possível por seu intermédio outros mais, para a defesa sem tréguas do Serviço Nacional de Saúde. E se outra razão não houvesse esta pandemia pôs às claras que sem ele milhares de portugueses teriam morrido. Porque foi para ele que os aflitos se voltaram desde a primeira hora, enquanto na retaguarda os hospitais privados faziam contas e torciam para que o nosso sistema de saúde colapsasse. Quantos são os portugueses que podem pagar por uma cama nos hospitais da Luz e Lusíadas 13 mil euros por quatro dias com ventilação ou 1962 euros por noventa horas de ventilação. O desplante, chegou ao ponto de certos fregueses mais abonados abancarem com coronavírus nos privados e estes mandarem a conta ao SNS. Por aqui se vê que, quando a peste desaparecer, teremos todos de nos unir para defender as equipas médicas e o próprio sistema com unhas e dentes. E paus se preciso for. Que a pequena-burguesia dégage dos públicos se as peneiras e cagança for demasiado. Limpos dessa canalha convencida, os pobres irmanados num mesmo amplexo, respiram melhor.

         - Je ne me laisse-aller. Estou sempre muito atento à saúde, isto é, à vida, e meço a temperatura todos os dias: manhã e noite. Corre entre 36,2 - 36,6 graus.


         - No salão um olho no computador sobre os joelhos, outro na televisão. Acartei os troncos para serem desfiados e depois arrastei-os para ao pé da casa onde serão cortados para a lareira. Calor. Luz claríssima. De manhã fui comprar o jornal e dar uma pequena volta pelas praias fluviais da Moita. Paisagem quase lunar, tempo imobilizado, sem almas, Lisboa do outro lado deitada ou mal-acordada. Não se via vivalma. Seixos atapetavam as margens, aqui e ali um barco esquecido, restaurantes e cafés fechados. Desolação. Poesia. Murmúrios.