Quinta,
2.
O
meu amigo suíço que não foi atingido pelo coronavírus, elogia o que chega à
Suíça sobre Portugal. O nosso SNS é elogiado por lá e os números que correm
acerca da abordagem que temos feito à pandemia e aos infectados, é realçado
positivamente. Graças aos nossos médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar, mas também
ao trio de competentes gestores da crise: Primeiro Ministro, Ministra da Saúde
e essa figura enternecedora e competente que é Graça Freitas. Os autarcas, salvo raras excepções,
promovem-se com a desgraça alheia. Nem percebem que ao exporem-se, exibem a marca
desastrosa da sua governação.
- A Policia francesa está confrontada
com uma nova tragédia: a tensão nos lares. Como eu aqui previ, “em família”
iria transformassem num ringue de boxe. Indispensável para ajudar aos que nos
hospitais sofrem e nas ruas multar os que julgam que o mal só vai no sentido
dos outros, ei-la com mais este fardo. O número de mulheres vítimas de maridos
e filhos não pára de crescer.
- Os amigos continuam a telefonar. Estamos
às vezes muito tempo ao telefone como aconteceu há dois dias com o Guilherme
Parente, que me disse ter montado em casa mais um atelier. Esta roda salutar da
amizade derrota aquela outra dos amigos anuais, aniversariantes e quejandos. A
Virginia Woolf faz esta pergunta para dizer da inutilidade destes insólitos amigos:
“Que significam os amigos que não vemos há anos e falamos uma vez quando fazem
anos?” Eu a alguns só respondo porque não sou capaz de ser indelicado.
Desligado o telefone, desligo-os do coração.
- Nestes dias de súbito frio, decidi
ter hoje a lareira a crepitar todo o santo dia (forma corrente de falar. Onde é
que já se viu uma estrutura de tijolo crepitar!). Sim, sim neste mês do nunca
visto! A casa está gélida e ontem ao jantar até o aparelho de ar condicionado
da cozinha, liguei. Embora esta quinta-feira o sol se tenha espreguiçado sobre
o campo de erva faiscante das últimas chuvas, a atmosfera não deixa de ser a de
Outono antecipado ou nunca ausentado. Para nós portugueses, basta-nos que o sol
deite a língua dourada de fora, para nos sentirmos o mais felizardo povo do
mundo. Somos reis ungidos do astro-rei.