quinta-feira, abril 02, 2020

Quinta, 2.
O meu amigo suíço que não foi atingido pelo coronavírus, elogia o que chega à Suíça sobre Portugal. O nosso SNS é elogiado por lá e os números que correm acerca da abordagem que temos feito à pandemia e aos infectados, é realçado positivamente. Graças aos nossos médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar, mas também ao trio de competentes gestores da crise: Primeiro Ministro, Ministra da Saúde e essa figura enternecedora e competente que é Graça Freitas.  Os autarcas, salvo raras excepções, promovem-se com a desgraça alheia. Nem percebem que ao exporem-se, exibem a marca desastrosa da sua governação. 

         - A Policia francesa está confrontada com uma nova tragédia: a tensão nos lares. Como eu aqui previ, “em família” iria transformassem num ringue de boxe. Indispensável para ajudar aos que nos hospitais sofrem e nas ruas multar os que julgam que o mal só vai no sentido dos outros, ei-la com mais este fardo. O número de mulheres vítimas de maridos e filhos não pára de crescer.

         - Os amigos continuam a telefonar. Estamos às vezes muito tempo ao telefone como aconteceu há dois dias com o Guilherme Parente, que me disse ter montado em casa mais um atelier. Esta roda salutar da amizade derrota aquela outra dos amigos anuais, aniversariantes e quejandos. A Virginia Woolf faz esta pergunta para dizer da inutilidade destes insólitos amigos: “Que significam os amigos que não vemos há anos e falamos uma vez quando fazem anos?” Eu a alguns só respondo porque não sou capaz de ser indelicado. Desligado o telefone, desligo-os do coração.


         - Nestes dias de súbito frio, decidi ter hoje a lareira a crepitar todo o santo dia (forma corrente de falar. Onde é que já se viu uma estrutura de tijolo crepitar!). Sim, sim neste mês do nunca visto! A casa está gélida e ontem ao jantar até o aparelho de ar condicionado da cozinha, liguei. Embora esta quinta-feira o sol se tenha espreguiçado sobre o campo de erva faiscante das últimas chuvas, a atmosfera não deixa de ser a de Outono antecipado ou nunca ausentado. Para nós portugueses, basta-nos que o sol deite a língua dourada de fora, para nos sentirmos o mais felizardo povo do mundo. Somos reis ungidos do astro-rei.