quinta-feira, março 12, 2020

Quinta, 12.
João Miguel Tavares que, como ex-jornalista, na sua crónica intempestiva no Público, insurge-se contra a Ministra da Saúde e a sua competência no ataque ao coronavírus. Terá esse direito na forma e conteúdo que escolheu enquanto articulista? Tenho muitas dúvidas. Sobretudo quando parece ter escolhido um certo tom que finge desconhecer a verdade. Cito: “Azar teve a China, onde a epidemia nasceu, e não podia fazer grande coisa quanto a isso. Em Portugal já é uma questão de competência.” Mauzinho. Porque omitiu o principal para lhe sobrar espaço para a atacar quem tem feito, grosso modo, um bom trabalho. Se a China no seu entender “não podia fazer grande coisa”, pôde conceber o principal: calar o médico que primeiro detectou o vírus e fazer desaparecer os doentes dos primeiros sintomas. Eis o que JMT ignora ou camufla. Depois, de joelhos ante o ditador, pretende que em Portugal se monte o mesmo programa tecnológico que impera contra tudo e todos no país de Jinping ping ping ping. Para terminar com estas palavras:  .”.. qual a razão para testar um (ele escreve mesmo UM) Presidente da República assintomático e não testar doentes com pneumonia internados num hospital central.” Vejamos. Eu sou dado a considerar o Presidente porque não foi um qualquer em abstracto que foi observado. Depois, embora esteja de acordo com ele que a saúde deve ser igual e boa para todos, não posso deixar de realçar que o Presidente da República é único e como tal não pode tirar a senha para a fila de consultações. Mais a mais, sendo Marcelo quem é – Presidente atípico, que se faz tratar nos hospitais públicos como qualquer cidadão, para não falar no seu mantado absolutamente fora do baralho e culturalmente equidistante do seu antecessor. Gostaria de saber quantas vezes o senhor João Miguel Tavares se cuidou nos hospitais do SNS.

         - João Corregedor andou a mostrar-me os cartazes que estão expostos no metro do Chiado. Ele e mais uns quantos, cheios de revolta pelo facto de os placards estarem escritos apenas em inglês, apresentaram a sua indignação à Gulbenkian. Têm toda a razão. Eu detesto a língua que tudo colonizou, do pacóvio que fala o inglês de caserna, ao político que se julga culto por alinhar umas quantas palavras de modo desalinhadas.


         - Trump acaba de proibir a entrada nos Estados Unidos de todo e qualquer avião vindo da Europa à excepção do Reino Unido. Pobre hipócrita. Em vez de tratar aqueles milhares de americanos que decerto morrerão dentro de semanas por não terem dinheiro nem seguro de saúde, impõe unilateralmente uma aberração.


         - Prossigo com contumácia na destruição da erva em frente à casa, mas desta vez em espaços mais distantes. Trabalho estafante que no final de cada sessão me deixa a mesma sensação de plenitude do início do mundo. De tarde continuei o arrumo dos livros. Pelo jeito, a nova estante não é suficiente para albergar tantos camaradas, fora os que estão ainda por todo o lado e sendo certo que a família de amigos não pára de crescer. Tarde serena, céu azul sem mácula. Paz e deslumbre por um dia inspirado pela presença divina.