domingo, março 08, 2020

Domingo, 8.
A Covid-19 não escolhe raça, país, sexo, idade entra por qualquer porta e instala-se disposto a devorar o seu hospedeiro. Desde que o Dr. Li Wenliang, em Dezembro passado, o identificou e foi posteriormente sua vítima, não há quase país no mundo que não tenha sido atingido. Os números são impressionantes e só uma vacina ou antídoto o pode travar. Na Europa, a Itália parece ter sido a mais fustigada. O governo acaba de pôr 16 milhões de italianos confinados a suas casas. Em França foi decretado o fecho de escolas e universidades. Por cá idênticos procedimentos com a praga a engrossar as suas vítimas sobretudo a Norte. Pergunto-me muitas vezes, que teria resultado se o ditador chinês não tivesse advertido o sábio médico e não tivesse eliminado (elas desapareceram) as primeiras vítimas. Decerto tudo seria diferente e ter-se-ia evitado os já milhares de mortos. Em certo sentido, a Jinping ping ping se deve esta tragédia. Se outras razões não houvesse para detestar o comunismo, esta bastaria para nunca aceitar viver sob o seu jugo. Em democracia aguenta-se melhor os perigos porque em democracia, muito ou pouco, confiamos nos governantes, a informação corre livremente, somos todos parte do todo. Eu, por exemplo, sou dos que acho que António Costa, a Ministra da Saúde, a Dra. Graça Freitas que tem sido inexcedível de dedicação à causa do equilíbrio e à limpeza dos fantasmas que varrem a ignorância habitual dos portugueses, têm sido inultrapassáveis de dedicação.

         - Por outro lado, talvez calhem aqui esta palavras alinhadas por Pierre Hadot, acerca de Luciano de Samósata e do seu Caronte, denunciador do modo insensato como os homens vivem: “Se desde o início, os homens percebessem que são mortais e que, depois de uma breve estada na vida, têm de a abandonar como se saíssem de um sonho, deixando lá ficar tudo, viveriam mais sabiamente e morreriam com menos arrependimentos.”

         - Há uma personagem que não cesso de admirar: o vigarista Vale e Azevedo. Não tem conta os milhões que ele manobrou, ele e a mulher, desde o muito que roubou quando foi presidente do Benfica (lá está o futebol), até às inúmeras empresas falsificadas que abriu e fechou. Já veio de Londres para ficar uns anos na cadeia, em Cascais, mas, por artes maravilhosas que encantam incautos e a Justiça, voltando a viver em Inglaterra, e tendo vários outros processos nos tribunais nacionais a aguardá-lo, desde 2018 que a justiça britânica não consegue notificá-lo para se apresentar no seu país. O homem é o protótipo do vigarista: simpático, come toda a gente com o sorriso, elegância e nobreza. Eu se fosse um romancista com talento, faria dele a personagem de romance que na realidade ele é.

         - Acabei o tratamento às macieiras. Restam os damasqueiros e as amendoeiras. Tempo quente lavado por um fio constante de frio. A explosão de vida que aqui acontece, e é anunciadora da Primavera, deixa-me de rastos. Estou como sempre acontece nesta altura do ano, uma papa de coisa nenhuma. Já estou a enfiar vitaminas pela goela abaixo, o cérebro está no limite do cansaço. Tenho cada vez mais visões: o Black a passar não estando dentro de casa, répteis a correr a meus pés, alguém a bater às portas... Toda esta maluqueira é-me familiar e nunca houve médico nenhum que me dissesse as razões de tanta confusão. Depois, lá para meio da Primavera, todo este tumulto e mais as personagens que o acompanha, vão-se deixando-me apalermado num adeus a quem me era familiar e com quem me habituara a conviver...


         - Estas páginas atingiram 46000 mil leitores! Que vem aqui fazer tanta gente? Mistério.