Quarta,
4.
Quem
nos acode! Este país - falo de Portugal -, está transformado num atoleiro de
incomensurável tristeza. E lembrar-me eu do que acontecia no tempo de Marcelo Caetano
e me devolvem agora noutra versão, segundo a qual tudo o que hoje se passa ao
nível da corrupção e do roubo descarado, não era conhecido porque a censura
impedia. Dá a impressão que os dois sistemas são um único, com a diferença de
permeio haver mão forte na liberdade de expressão num. Pois que assim seja se
isso os aquieta. Mas olhar-se para a Justiça e vê-la na cave da desonra, é algo
que não me satisfaz absolutamente nada. Aquilo parece um bando de mafiosos. De
uma assentada pelo menos quarto juízes estão acusados de corrupção e esquemas
fraudulentos: Orlando Nascimento, Presidente da Relação de Lisboa, tal como o
anterior é suspeito de irregularidades na atribuição de processos, Luís Vaz das
Neves, Rui Rangel, a ex-mulher... Dito de outro modo, os pilares da democracia
nunca estiveram tão frágeis. Não tardará muito que os portugueses se recusarão
a entrar nos tribunais, passando a fazer justiça com suas próprias mãos.
- Mas a ganância do dinheiro está por
todo o lado. Hoje mesmo, várias equipas de investigação judiciária,
deslocaram-se às casas dos presidentes e aos clubes dos quatro maiores do
futebol: Benfica, Porto, Sporting e Sp. de Braga. Há suspeitas de grandes fugas
ao fisco, numa área onde toda a gente ganha milhões, mas os milhões são pouco
porque o que os move são triliões e não a trampa de milhões. A populaça anda
enganada, anestesiaram-na com a droga do futebol e os seus cérebros já não
reagem à verdade e à lucidez. Pelos seus ídolos, estão prontos a dar as suas
próprias vidas. Que tristeza de país!
- É curioso ver o primeiro-ministro em
deslocações aos hospitais a certificar-se da recepção ao Covid 19. O homem
aparece enfiado, desconfiado de tudo e todos, pedindo que não o cumprimentem,
nem o beijem. A gente até lhe lê o pensamento: “Se me ver livre disto, até julgo
que é mentira.”
- Justamente. Nem tudo é mau no percurso
do coronavírus. A China, desde que paralisou ou abrandou a economia, o céu sem
a invasão das carradas de CO2, abriu um manto suave de azul. Vi imagens disso e
convenci-me definitivamente dos efeitos que a poluição provoca no Planeta.
Julgo que o ditador Jinping ping ping, ao ver o resultado da paralisação
forçada, vai tratar de defender os seus escravos do pior.
- Nestes últimos dias tenho estado a
reler a história da Hungria entre outros escritos com ela relacionados. Um dos
livros de consulta obrigatória é também
Danúbio de Claudio Magris. Na página
203 deparo com este sublinhado que eu fiz em 1914 quando li a obra: (...) “a
verdadeira literatura não é a que lisonja quem lê, confirmando-o nos seus
preconceitos e nas suas certezas, mas sim a literatura que o persegue e põe em
dificuldade, que o obriga a refazer as suas contas com o mundo e com as suas
certezas”. O oposto, portanto, da “literatura” de cordel hoje tão do agrado dos editores
que Lídia Jorge – e bem – rotula de lixo.
- Dia glorioso chegado nas asas do
Sol. Depois da leitura, peguei na roçadora e ataquei outro lado do espaço em
frente à casa. O meu vizinho, face à vinha que está pomposa, marcou reunião com
um grande número de pessoas cada qual com seu carro. Grande animação a que o
bom tempo lançou aústes de esperança.