domingo, março 22, 2020

Domingo, 22.
Ontem o mercado semanal de rua dos pequenos agricultores não funcionou. Os supermercados tinham filas expressivas de espera. Poucos carros nas estradas. A impressão que tenho é que as medidas para conter a vírus estão a ser cumpridas. Até quando irão os portugueses aguentar permanecer em casa, não sei. Espero que arranjem coragem trancados na vontade de viver para se resguardarem o máximo de tempo possível. A vida vale todos os sacrifícios. 

         - E penso nos mais de 800 pessoas falecidas em Itália nas últimas vinte quatro horas. Sem esquecer os migrantes, um pouco por toda a Europa, a viver duas vezes em paralelo a sua desgraça e dos que lhes levavam algum conforto. 

         - Saí para comprar o Público que nos traz algum conforto com o tipo de notícias construídas com competência e suavidade. Hoje é um jornal estruturado para nos fornecer e pôr a par da pandemia, nacional como por esse mundo de suores frios e noites suspensas, mortes solitárias e dores contidas. Do que leio e analiso, é que estamos melhor, grosso modo – sem que isto me dissocie do sofrimento alheio –. no conjunto dos países da Europa. Com todas as nossas limitações, a pobreza, os hospitais públicos em desvantagem para os privados,  a selvajaria de alguns concidadãos, o analfabetismo, apesar de todos estes casos tristes, o número de mortos e atingidos pela Covid-19 é inferior – e isso dá-nos uma grande esperança.  


         - Mais uma vez, aconselho os meus leitores a ler o artigo de António Barreto no Publico de hoje. Aqui fica o último parágrafo: “Criámos uma sociedade de heróis vácuos, de espectáculo e satisfação imediata, sem medo, sem amanhã e sem futuro... Fizemos uma sociedade de produto e marca, de performance e produtividade. Inventámos uma sociedade de banalidades e futilidades, de falso brilho e de satisfação efémera. Concebemos uma sociedade que idolatra o risco, sem se dar conta de que esse valor é geralmente destruidor de pessoas e sentimentos. Houvesse um pouco de medo, de receio do inútil e do vistoso, e talvez estivéssemos mais bem preparados para esta praga.” Assino de cruz, mais a mais porque não me canso de denunciar nestas páginas todas estas tristes realidades.