Domingo, 22.
Ontem
o mercado semanal de rua dos pequenos agricultores não funcionou. Os
supermercados tinham filas expressivas de espera. Poucos carros nas estradas. A
impressão que tenho é que as medidas para conter a vírus estão a ser cumpridas.
Até quando irão os portugueses aguentar permanecer em casa, não sei. Espero que
arranjem coragem trancados na vontade de viver para se resguardarem o máximo de
tempo possível. A vida vale todos os sacrifícios.
- E penso nos mais de 800 pessoas
falecidas em Itália nas últimas vinte quatro horas. Sem esquecer os migrantes,
um pouco por toda a Europa, a viver duas vezes em paralelo a sua desgraça e dos
que lhes levavam algum conforto.
- Saí para comprar o Público que nos
traz algum conforto com o tipo de notícias construídas com competência e
suavidade. Hoje é um jornal estruturado para nos fornecer e pôr a par da
pandemia, nacional como por esse mundo de suores frios e noites suspensas,
mortes solitárias e dores contidas. Do que leio e analiso, é que estamos melhor,
grosso modo – sem que isto me dissocie do sofrimento alheio –. no conjunto dos
países da Europa. Com todas as nossas limitações, a pobreza, os hospitais
públicos em desvantagem para os privados,
a selvajaria de alguns concidadãos, o analfabetismo, apesar de todos
estes casos tristes, o número de mortos e atingidos pela Covid-19 é inferior –
e isso dá-nos uma grande esperança.
- Mais uma vez, aconselho os meus
leitores a ler o artigo de António Barreto no Publico de hoje. Aqui fica o último
parágrafo: “Criámos uma sociedade de heróis vácuos, de espectáculo e satisfação
imediata, sem medo, sem amanhã e sem futuro... Fizemos uma sociedade de produto
e marca, de performance e
produtividade. Inventámos uma sociedade de banalidades e futilidades, de falso
brilho e de satisfação efémera. Concebemos uma sociedade que idolatra o risco,
sem se dar conta de que esse valor é geralmente destruidor de pessoas e
sentimentos. Houvesse um pouco de medo, de receio do inútil e do vistoso, e
talvez estivéssemos mais bem preparados para esta praga.” Assino de cruz, mais
a mais porque não me canso de denunciar nestas páginas todas estas tristes
realidades.