sexta-feira, agosto 05, 2016

Sexta, 5.

O pecado, a sua substância e condenação, desde sempre me obcecou. Ofende-se a Deus, pecando. É pelo menos o que nos diz a Igreja. Somos todos pecadores face a Deus. Até posso compreender esta proposição, porque imagino o Criador como entidade de uma perfeição impossível de comparar com qualquer criatura humana. De resto, ninguém sabe quem é Deus, como Ele é, que face possui, que luz ou tragédia O habita. Certo, na Bíblia encontramos aproximações à sustentação do pecado enquanto culpa, conflito, transgressão, respeito ou representação do outro nos valores que nos irmanam. Em que circunstância os meus actos se transformam em pecado? Pode o pecado pertencer à categoria de algo subjectivo que permite toda a interpretação e consequente condenação? Ou sai ele directo do livre-arbítrio que impera sobre a liberdade enquanto elemento unificador das consciências? Peca somente quem descende directamente de Deus e segue o Evangelho como Constituição para a vida? Os Dez Mandamentos são eles a tábua de salvação e o código orientador do relacionamento humano para o Senhor? E quem não reconhece Deus, fica apartado destes princípios, livre para ser o que quiser e proceder socialmente como entende, ou o reconhecimento de certos valores universais são suficientemente fortes para não haver precisão de qualquer identidade religiosa que os sustentem? Ou o homem é na sua origem, na sua matriz primeira, um ser votado, constituído de valores consagrados, produto de gerações, do aperfeiçoamento humano, que dispensa os princípios religiosos para se consubstanciar nos éticos que enquadram a organização social e política? Tantas interrogações me incendeiam de dúvidas e incertezas! O problema é tanto mais complexo por quanto o pecado como ofensa a Deus, pode ser praticado na célula de um convento ou no meio do mundo perceptível onde imperam todas as tentações e desafios. Daqui concluo eu que o pecado é matéria íntima que entala a consciência do medo e a obriga a estar de atalaia às nossas imperfeições e impulsos. Perante Deus somos todos sagrados, feitos à Sua imagem e semelhança e, portanto, susceptíveis de atingir a perfeição. O caminho proposto é duro de caminhar, mas quem possuir fôlego bastante para o conseguir será compensado, isto é, sairá do pecado e conhecerá Deus na Eternidade. Falo daqueles que acreditam que não somos sacos de batatas que apodrecem e se enterram depois. A noção de pecado é uma noção iminentemente religiosa, diferente da culpa atribuída por um juiz a um qualquer prevaricador. Quem ler a Bíblia, apercebe-se do conflito entre o homem e Deus na base do qual está o pecado. Ou talvez não tanto o pecado, mas a ruptura da aliança com Deus. Não obstante, há da parte de Deus uma especial apetência pelos pecadores. Exemplos não faltam, entre tantos, o de Maria Madalena.