Terça, 17.
No sábado, na exposição do Guilherme
Parente, encontrei velhos amigos que não via há algum tempo: Rocha Pinto,
António Segurado, Sérgio Pombo, outros mais. A galeria propriedade da neta de
José Saramago, é uma ratoeira para os incautos, com os seus degraus de divisão
em divisão. De resto, toda a concepção do espaço é quanto a mim um desastre de
aproveitamento. E quando o número de visitantes é assinalável como foi o caso, tudo
se complica e ver os quadros torna-se um exercício impossível. Por isso, o
convívio ocorreu na Rua da Atalaia, no meio dos carros e do carnaval que é hoje
o Bairro Alto. Não é só nesta zona de Lisboa, mas em todo o Chiado onde os
turistas abundavam e uma catadupa de “artistas” faz as honras da casa. Felizmente
que o meu recreio aconteceu no encontro com o Simão e a Conceição que expunham
livros antigos na Rua da Anchieta. Muito nos divertimos, rimos, galhofámos. Eu
estava impossível de aturar, misturando livros e autores, com curiosos e
leitores. Eu levei George Sand, a terrível mulher que queria ser homem e tantos
homens amou, ajudou ao meu delírio.
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O escultor Vergílio e a mancha de tinto na camisa qual decoração pela amizade que nos une... |
- Quanto aos trabalhos do Guilherme são, como sempre, excelentes. Se os
visse no Japão ou na Índia, nos EUA ou no Botsuana, identificá-los-ia
imediatamente. O artista possui um cunho pessoal de profunda identificação com
a Arte. Há em toda a sua obra uma matriz identitária, onde a temática assenta em
vislumbres de cor e pictogramas que parecem vir de muito longe em cintilações
encantatórias. Os azuis povoados de nuvens brancas, os vermelhos, os amarelos são,
digamos, os elementos que caracterizam a base que depois se expande na
multiplicação e combinação de cores absolutamente arrebatadoras. Desta vez não
foram as grandes telas que me atraíram - talvez porque o espaço não lhes era
favorável. Do que eu gostei, foi de uma série de pequenos quadros sob fundo
escuro, que foram bem escolhidos para o espaço que lhes foi reservado. Geronimus
Bosh e Guilherme Parente – dois aristas que se desafiam.
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Paisagem II |
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O papão II |
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A lua misteriosa |
- A gente olha distraída para o folclore futebolístico e ao ver aqueles
rostos, ao escutar aquele português, desviamos o olhar e dizemos: “está tudo em
consonância”.
- Pelos vistos não são só as pessoas que têm perturbações cerebrais,
também o clima segue-lhes a tendência. Na Serra da Estrela voltou a abrir uma
das pistas de esqui pela simples e estranha razão de que a neve tem caído neste
mês de Maio quase Junho. Eu, há dias, tive tanto frio de noite que voltei a
cobrir-me com o edredão e liguei o calorífero. Isto deve ser uma qualquer
macumba chinesa para subir os lucros da eléctrica.