Sábado, 14.
O jogo direita/esquerda tem sido
extremamente nocivo à democracia. Porque não são as ideologias que o têm
marcado, mas o ressabiamento constante entre pessoas. Antes tivemos a falta de
pagamentos de Passos Coelho à Segurança Social, se bem me lembro uma ninharia;
agora temos o ataque ao juiz Carlos Alexandre porque, dizem, passou à frente
num empréstimo que pediu ao Cofre dos Funcionários do Estado. Eu se estivesse à
testa da instituição, claro que lhe dava preferência pelo simples facto de ser
um funcionário que tem trabalhado incansavelmente pela causa da Justiça. Dito
isto, e para realçar a mesquinhez dos que o atacam, como é que um homem daquela
craveira tem ainda precisão de um empréstimo de... 4000 euros! Que país
ridículo e miserável em que tive a pouca sorte de ter nascido!
- Há outra polémica instalada: a proteccção financeira aos colégios
privados. Dou razão a António Costa na política que segue no tocante ao
assunto. Eu estive no colégio Camões, em Coimbra e nunca ouvi falar que o
Estado lá aplicasse um chavo. Eram as famílias que pagavam aquilo a que se
chamava as propinas. Hoje o Estado é convocado para tudo, mas o Estado somos
nós os que não fugimos aos impostos. O mesmo se passa com os hospitais
privados. Porque raio devem eles ser ajudados com o nosso dinheiro. Querem ser
privados, que o sejam e aguentem com as consequências. Não sei de nenhuma
pequena e média empresa que tenha sido protegida pelo Estado. Por esta lógica,
o Estado devia ajudar todo o empresariado privado.
- Outra matéria em que estou em sintonia com o Governo: a maternidade de
substituição. O projecto foi da menina arrebitada do Bloco de Esquerda. Bravo.
Parece-me um diploma equilibrado. Há quem pense no que pode extrapolar dali
como é o caso da Igreja. Mas se fôssemos a pensar nela, o mundo estava ainda na
Idade Média, a Ciência ensandecida, os avanços tecnológicos obra de Belzebu. Acho
ordinário aquela expressão “barrigas de aluguer”. A dita senhorita, também
pensou nisso e desaprovou a concomitância.
- Às vezes pego em mim e no computador e vou sentar-me no último andar
do “Alegro somos todos nós”. Foi o caso ontem para uma sessão proveitosa de
onde ao cabo de três horas saí com dois capítulos revistos do romance. As duas
empregadas entradotas que devem pensar coisas estranhas de mim, assim que me veem
arribar ao cimo das escadas rolantes, apressam-se a tirar o cafezito. Quando me
aproximei do balcão, disseram-me: “Se calhar esta bica está muito fraquinha.”
Sem esperarem pela resposta, tornaram à máquina e verteram outra bebida. “Você
deve precisar de um café bem forte”, disseram ao deixar a segunda chávena no
balcão.
- Je ne crois pas ceux qui disent se ruer dans le plaisir par désespoir.
Le vrai désespoir ne mêne jamais qu´a la peine ou à l´inertie.
La tragédie n´est pas qu´on soit seul,
mais qu´on ne puisse l´être.
Chaque homme meurt inconnu.
Si j´ai toujours refusé le mensonge
(inapte même lorsque je m´y efforçais), c´est que je n´ai jamais pu accepter la
solitude. Mais il faut maintenant accepter aussi la solitude.
C´est qu´il y a de plus long au monde
c´est d´apprendre à aimer.
La tentation commnuniste est, pour un
intellectuel, de même type que la tentation religieuse. Il n´y a là rien de
honteux, à la condition qu´on y céde loyalement en connaissance de cause.
L´homme de vérité ne villit pas. Encore
un effort et il ne mourra pas.
Carnets
III, Albert Camus.
- Vou despachar-me para Lisboa. Tenho a inauguração da exposição do
Guilherme e dei ontem o meu assentimento ao Corregedor que me telefonou nesse
sentido. Chove? Pouco importa.