quinta-feira, maio 05, 2016

Quinta, 5.
Estou curioso em ver no que dá o trabalho dos jornalistas internacionais que denunciaram os crimes dos chamados Panama Papers. O secretário-geral dos Jornalistas sem Fronteiras revelou outro dia o número de camaradas assassinados, despedidos, presos, silenciados e ainda o insidioso retorno da Censura por todo o lado. Pelo que vou assistindo, quando o tom baixar e aquilo que se suspeitava reverter a favor dos transgressores, os paraísos fiscais vão continuar e até aumentar, os pobres da Europa e do mundo continuarão o seu destino de indigentes, enquanto a canalha arrogante e gananciosa gozará de uma multidão de escravos ao seu serviço.

         - Um provinciano de vinte e quatro anos, idêntico aos milhares que se instalaram na capital, escaqueirou a bela estatueta de D. Sebastião que adornava a fachada da estação do Rossio. Quando era miúdo e por ali passava, achava muita graça à figura elegante do monarca, à sua solidão e nobreza, ali plantado no centro da imponente frontaria. Apesar do seu tamanho (um metro e meio), sobressaía ante o olhar deslumbrado da criança, como se fosse um miúdo com quem podia brincar ou trocar olhares coniventes.


         - Manhã muito cedo, antevendo uma carga de chuva, deitei fogo a dois montões de detritos vegetais resultantes da limpeza dos arbustos em torno da quinta. Sobrou um outro por ter sido construído segunda-feira e ainda verde não aceitou o extermínio. Depois sentei-me para tomar o pequeno-almoço. Através da janela, vi descer do alto alvoroços de chuva forte cortada a chicotadas de vento em remoinho. O espectáculo era a um tempo grandioso e pavoroso pelo recorte das labaredas que se agigantavam do chão. Agora, o que avisto do lugar da escrita, é uma chaminé de fumo branco dançando à chuva branda.