Quinta, 5.
Estou curioso em ver no que dá o trabalho
dos jornalistas internacionais que denunciaram os crimes dos chamados Panama Papers. O secretário-geral dos
Jornalistas sem Fronteiras revelou outro dia o número de camaradas assassinados,
despedidos, presos, silenciados e ainda o insidioso retorno da Censura por todo
o lado. Pelo que vou assistindo, quando o tom baixar e aquilo que se suspeitava
reverter a favor dos transgressores, os paraísos fiscais vão continuar e até
aumentar, os pobres da Europa e do mundo continuarão o seu destino de
indigentes, enquanto a canalha arrogante e gananciosa gozará de uma multidão de
escravos ao seu serviço.
- Um provinciano de vinte e quatro anos, idêntico aos milhares que se
instalaram na capital, escaqueirou a bela estatueta de D. Sebastião que
adornava a fachada da estação do Rossio. Quando era miúdo e por ali passava,
achava muita graça à figura elegante do monarca, à sua solidão e nobreza, ali
plantado no centro da imponente frontaria. Apesar do seu tamanho (um metro e
meio), sobressaía ante o olhar deslumbrado da criança, como se fosse um miúdo com
quem podia brincar ou trocar olhares coniventes.
- Manhã muito cedo, antevendo uma carga de chuva, deitei fogo a dois
montões de detritos vegetais resultantes da limpeza dos arbustos em torno da
quinta. Sobrou um outro por ter sido construído segunda-feira e ainda verde não
aceitou o extermínio. Depois sentei-me para tomar o pequeno-almoço. Através da
janela, vi descer do alto alvoroços de chuva forte cortada a chicotadas de
vento em remoinho. O espectáculo era a um tempo grandioso e pavoroso pelo
recorte das labaredas que se agigantavam do chão. Agora, o que avisto do lugar
da escrita, é uma chaminé de fumo branco dançando à chuva branda.