terça-feira, maio 10, 2016

Terça, 10.
No Canadá o incêndio que consumiu toda a zona Alberta, deixou viaturas calcinadas, casas reduzidas a cinza, mais de cem mil pessoas em fuga, só ontem conseguiu algum descanso com as poucas gotas de chuva que caíram, embora o vento se tivesse instalado para activar o inferno e destacar a silhueta da cidade fantasma. 160 mil hectares partiram em chamas. 

         - Ele orgulhava-se de estar casado há 50 anos com a mesma mulher e eu repliquei: “Isso pouco interessa. O que importa é se és feliz.” E ele num tom frouxo: “Mais ou menos.”


         - Ontem almocei no CI. No restaurante encontrei uma conhecida “figura pública” (como eles adoram ser tratados) e passámos uns momentos à conversa. Ele vive em Campolide e eu perguntei-lhe se gosta do presidente de Junta, o meu amigo André. Entre outras coisas falou-me numa sondagem à população sobre a manutenção da calçada portuguesa no bairro que o autarca teria levado a cabo. Primeiro, com a sua discordância, depois com o seu acordo. Eu lembrei-me de ter lido qualquer coisa sobre o assunto, mas não sabia onde. “Provavelmente no jornal Público que trouxe há poucos dias a notícia.” acrescentou ele. Chegado a casa, fui procurar na rima de jornais que a Piedade (felizmente) se esqueceu de levar para o ecoponto. Lá vinha tudo o que ele me resumira, na essência o seguinte: André Couto decidira perguntar aos moradores se queriam que a Junta remodelasse a calçada tradicional substituindo-a por pavimento moderno e mais seguro. Tratou-se, portanto, de uma consulta absolutamente democrática e, direi eu, natural. Os residentes votaram maioritariamente (61 por cento) pelo pavimento alternativo. De súbito, junta-se ao referendo o grupo zelador do património a todo o custo, chamado Fórum Cidadania Lx que apela ao Provedor de Justiça afirmando que a consulta é ilegal. O presidente da Junta, com propósitos absolutamente claros e chamando a população a manifestar-se para que não se pense que ele impõe os seus gostos, vê-se assim confrontado com a ilegalidade que o Fórum e o provedor reconhecem. Quer dizer, eu que estou farto de ver novos e velhos escorregarem na Baixa e por todo o lado onde a dita calçada portuguesa impera, sempre esburacada como no tempo do imperador António Costa, e continua com o seu benjamim, sem que tenham equipas de calceteiros que corrijam os passeios e tapem os buracos. Ora, sendo o Bairro de Campolide maioritariamente constituído por pessoas idosas, não faz sentido que a lei venha contribuir para mais moradores sofrerem quedas que podem ser fatais. A suas excelências isso parece pouco importar. As minudências da lei, são mais importantes que os desastres dos idosos lisboetas. Conclusão: um presidente de Junta à altura do cargo que os residentes lhe deram, é um luxo que não interessa à democracia.