Terça, 10.
No Canadá o incêndio que consumiu toda a
zona Alberta, deixou viaturas calcinadas, casas reduzidas a cinza, mais de cem
mil pessoas em fuga, só ontem conseguiu algum descanso com as poucas gotas de
chuva que caíram, embora o vento se tivesse instalado para activar o inferno e destacar
a silhueta da cidade fantasma. 160 mil hectares partiram em chamas.
- Ele orgulhava-se de estar casado há 50 anos com a mesma mulher e eu
repliquei: “Isso pouco interessa. O que importa é se és feliz.” E ele num tom
frouxo: “Mais ou menos.”
- Ontem almocei no CI. No restaurante encontrei uma conhecida “figura
pública” (como eles adoram ser tratados) e passámos uns momentos à conversa.
Ele vive em Campolide e eu perguntei-lhe se gosta do presidente de Junta, o meu
amigo André. Entre outras coisas falou-me numa sondagem à população sobre a
manutenção da calçada portuguesa no bairro que o autarca teria levado a cabo.
Primeiro, com a sua discordância, depois com o seu acordo. Eu lembrei-me de ter
lido qualquer coisa sobre o assunto, mas não sabia onde. “Provavelmente no
jornal Público que trouxe há poucos dias a notícia.” acrescentou ele. Chegado a
casa, fui procurar na rima de jornais que a Piedade (felizmente) se esqueceu de
levar para o ecoponto. Lá vinha tudo o que ele me resumira, na essência o seguinte:
André Couto decidira perguntar aos moradores se queriam que a Junta remodelasse
a calçada tradicional substituindo-a por pavimento moderno e mais seguro.
Tratou-se, portanto, de uma consulta absolutamente democrática e, direi eu,
natural. Os residentes votaram maioritariamente (61 por cento) pelo pavimento
alternativo. De súbito, junta-se ao referendo o grupo zelador do património a
todo o custo, chamado Fórum Cidadania Lx que apela ao Provedor de Justiça
afirmando que a consulta é ilegal. O presidente da Junta, com propósitos
absolutamente claros e chamando a população a manifestar-se para que não se
pense que ele impõe os seus gostos, vê-se assim confrontado com a ilegalidade
que o Fórum e o provedor reconhecem. Quer dizer, eu que estou farto de ver novos
e velhos escorregarem na Baixa e por todo o lado onde a dita calçada portuguesa
impera, sempre esburacada como no tempo do imperador António Costa, e continua
com o seu benjamim, sem que tenham equipas de calceteiros que corrijam os passeios
e tapem os buracos. Ora, sendo o Bairro de Campolide maioritariamente
constituído por pessoas idosas, não faz sentido que a lei venha contribuir para
mais moradores sofrerem quedas que podem ser fatais. A suas excelências isso
parece pouco importar. As minudências da lei, são mais importantes que os
desastres dos idosos lisboetas. Conclusão: um presidente de Junta à altura do
cargo que os residentes lhe deram, é um luxo que não interessa à democracia.