Quinta, 26.
Esta noite um sonho bizarro. Talvez
devido às minhas grandes leituras de Ernst Junger que está em Eidsbygda, na
Noruega, em 1935. Durante uma parte do sono, travei uma luta estúpida com a
Piedade que decidiu meter na máquina (instrumento de dominação tal como o
pensou o escritor-filósofo no dilúculo do século passado) de lavar roupa certos
peixes, alguns de bom porte. O aparelho tinha o tamanho dessas irmãs utilizadas
nos hotéis, com um olho largo que me permitia ver os animais a rodarem como
roupa a lavar. Aflito, tentei retirar os exemplares que a Piedade se esforçava
por impedir, alegando que eles estavam sujos e não os podia comer imundos.
Acerquei-me de uma espécie de remo e empurrava os peixes maiores para dentro do
olho rotativo que existia no fundo do aparelho. Quanto mais me esforçava por os
concentrar aí, mais eles saltavam para fora em postas rosas como o salmão e
gelatinosas como certos peixes manipulados. A cozinha onde a operação tinha
lugar, estava completamente alagada, mas a Piedade, obcecada, resistia. Para me
livrar daquela aflição, assim que acordo, levanto-me e vou à janela onde o dia
tinha nascido há algum tempo já. O repouso estava de volta.
- Esta curiosa interrogação do Filipe no remate de um e-mail,
referindo-se ao Rés-do-Chão de Madame
Juju: “E o livro quando sai ao mundo?”
- A menina Maya anda há uma data de semanas a prevenir-me que um amor
louco vai chegar a todo o momento. E eu assim que me levanto, corro as janelas
da casa a espreitar em todas as direcções em demanda da felicidade, e quando
vou na rua cuco todos os rostos que comigo se cruzam a ver se de súbito alguém
me dá o braço num convite à dança, e quando me sento num café pareço um
catavento a olhar em redor e até para o céu na esperança que surja de qualquer
lado um aceno secreto que me amortalhe o desassossego - e nada nem sombras nem
silhuetas nem um piscar de celhas acompanhado de um sorriso furtivo de
esperança.
- Afinal a macacuenga que tive
anteontem foi um golpe gripal. No dia seguinte à viagem a Badajoz estava
frustrado, com febre, alguma tosse, o corpo prostrado. Nada que três aspirinas
de 2014 fora de prazo não tivesse resolvido.