quinta-feira, maio 26, 2016

Quinta, 26.
Esta noite um sonho bizarro. Talvez devido às minhas grandes leituras de Ernst Junger que está em Eidsbygda, na Noruega, em 1935. Durante uma parte do sono, travei uma luta estúpida com a Piedade que decidiu meter na máquina (instrumento de dominação tal como o pensou o escritor-filósofo no dilúculo do século passado) de lavar roupa certos peixes, alguns de bom porte. O aparelho tinha o tamanho dessas irmãs utilizadas nos hotéis, com um olho largo que me permitia ver os animais a rodarem como roupa a lavar. Aflito, tentei retirar os exemplares que a Piedade se esforçava por impedir, alegando que eles estavam sujos e não os podia comer imundos. Acerquei-me de uma espécie de remo e empurrava os peixes maiores para dentro do olho rotativo que existia no fundo do aparelho. Quanto mais me esforçava por os concentrar aí, mais eles saltavam para fora em postas rosas como o salmão e gelatinosas como certos peixes manipulados. A cozinha onde a operação tinha lugar, estava completamente alagada, mas a Piedade, obcecada, resistia. Para me livrar daquela aflição, assim que acordo, levanto-me e vou à janela onde o dia tinha nascido há algum tempo já. O repouso estava de volta.

         - Esta curiosa interrogação do Filipe no remate de um e-mail, referindo-se ao Rés-do-Chão de Madame Juju: “E o livro quando sai ao mundo?”

         - A menina Maya anda há uma data de semanas a prevenir-me que um amor louco vai chegar a todo o momento. E eu assim que me levanto, corro as janelas da casa a espreitar em todas as direcções em demanda da felicidade, e quando vou na rua cuco todos os rostos que comigo se cruzam a ver se de súbito alguém me dá o braço num convite à dança, e quando me sento num café pareço um catavento a olhar em redor e até para o céu na esperança que surja de qualquer lado um aceno secreto que me amortalhe o desassossego - e nada nem sombras nem silhuetas nem um piscar de celhas acompanhado de um sorriso furtivo de esperança.


         - Afinal a macacuenga que tive anteontem foi um golpe gripal. No dia seguinte à viagem a Badajoz estava frustrado, com febre, alguma tosse, o corpo prostrado. Nada que três aspirinas de 2014 fora de prazo não tivesse resolvido.