segunda-feira, maio 02, 2016

Segunda, 2.
A manhã passou depressa e deliciosa. Desde as nove com o Brezhnev, ele removendo a terra e eu de joelhos arrancando o escalracho, preparámos uma leira no jardim para semear abóboras e um tipo de tomate de que trouxe a semente de Paris. Horas como eu tanto gosto, as mãos na terra, o espírito perdido na satisfação de me saber entregue a um trabalho com séculos de história, concomitantemente exercido no respeito das tradições ancestrais. Aqui não entra nenhuma espécie de químico. O estrume com que adubei o espaço, fui buscá-lo a um centro de equitação, e foi oferta da simpática rapariga, dona do picadeiro.


         - Vivi estes dias na leve sensação de que o país estava mudado. Quero dizer, os políticos tinham virado cidadãos honestos, os empresários e banqueiros pessoas sérias e decentes, os funcionários públicos encolheram a mão à tentação de se apropriarem do que não lhes pertence, enfim, todos os corruptos, falsificadores, ladrões estavam na prisão e o povo esmifrado até ao tutano, podia agora viver de cabeça levantada e conhecer melhores dias. Eis senão quando, leio no Correio da Manhã que aquele rapaz sorridente que as inteligências diziam ser o melhor CEO da Europa, de seu nome Baba, recebeu luvas no valor de 8 milhões do “dono de tudo isto”, Ricardo Salgado. Ele que havia negado aos deputados conhecer o patrão do BES e ter-se feito de idiota dizendo nada saber do que falavam os nossos insignes representantes. Depois, no escaparate onde estão os títulos da imprensa de cá, tropeço em outra personagem, desta vez uma mulher que teve poder no Banco Best e despedaçou a vida de centenas de idosos que lhe confiaram a gestão dos seus pés-de-meia. A ambiciosa criatura abotoou-se com qualquer coisa como 10 mil milhões de euros. Está tudo a saque e eu distraído a pensar que vivia num país livre de vigaristas e protegido por um Estado democrático com sólidas instituições e tribunais competentes e independentes.