sexta-feira, maio 06, 2016

Sexta, 6.
Regressar ao tempo do fascínio, esse tempo que suspendia tudo: montes e vales, rios e mares, dias e noites, tudo abrasado pelo toque do olhar acompanhado do murmúrio do coração, num frison desmedido que retinha o instante e o remetia para a imobilidade íntima da distância entre nada e coisa nenhuma. Tempo que a agitação dos momentos combinava com a quietude do olhar face à interioridade que aguarda o toque imperceptível que retém tudo no limiar do êxtase, do estado de graça que ilumina a vida e a exalta em instantes fugazes engolidos pelas sombras eternas. Tempo sem horas nem minutos, sem a rotatividade do sol e da lua passeando nos contornos da terra fulminada de descobertas a provir. O corpo largado na excitação de todas as buscas, inquieto ante a fulminação do que acode ao coração franqueado à voz que espera do lado claro da noite, assalto de dois corpos martirizados pelo silêncio dos instintos quebrados pelo fio de esperma deixado no abandono remanescente das madrugadas, vazio cheio, engrossado pelo despojo que a glorificação do amor traduziu num queixume redondo, numa recordação compacta, num rogo de remorsos hoje afastado da secura das horas transformadas em estacas varridas pelos estalos do vento. Refazer esse tempo-passado, trazê-lo nas palmas da mão e suspendê-lo como bibelôs nas estantes, na opacidade do ar, renascer dele e fazê-lo guardião de memórias e murmúrios, de segredos e eternidades.    


         - O português está todos os dias a ser surpreendido pelos piores e mais sinistros motivos. Esta não lembra ao tinhoso: o fisco, a quem lhe telefone a obter uma informação, a tirar uma dúvida ou a fazer um acerto de contas, faz pagar a chamada como Valor Acrescentado. É tudo a roubar até as Finanças! Só neste triste e miserável país!