Quinta, 19.
Vou transcrever o que li no Público.
“Três irmãos, dois advogados e um economista, foram detidos pela Policia
Judiciária por suspeita de envolvimento no sequestro e no homicídio de um
empresário de Braga, João Paulo Fernandes, de 42 anos. Os suspeitos, que
representaram o empresário em vários
processos judiciais e chegaram a ser seus sócios, ofereciam um esquema
complicado para empresários em dificuldades esconderem o seu património,
colocando-o a salvo dos devedores.” Surpreendidos? Atendendo ao que são hoje as
centrais de advogados e os próprios causídicos, eu nem um pouco.
- Estou completamente rendido ao trabalho de André Maurois. A tal ponto
que ando a ler, como dizer, ao ralenti para terminar mais tarde e bem saborear
as 560 páginas da vida de George Sand. De facto, ele dá-nos um retrato completo
e fascinante da personalidade da escritora, a tal ponto – e isso é o melhor que
pode acontecer a um autor – atira-nos para os braços de George (hei!, hei!),
quero dizer, para a leitura da sua obra. Que personalidade! Que mulher fora do
contexto do século XIX! Que vida turbulenta, a um tempo dolorosa e rica de
emoções, em contraciclo com a sua época! A quantidade de amantes e amores que
dormiram no seu leito, todos passados pelo crivo da sua escrita na forma de
romances, diários, memórias: Sainte-Beuve, Chopin, Musset, Jules Sandeau, o
barão Casimir Dudevant com casou, o advogado Michel de Bourges, a quem ela fez
a vida negra devido ao facto de ele ser casado, Franz Liszt, a actriz Marie
Dorval que julgo também ela/ele amou, para além de um grande número de outros
mais ou menos célebres, e ainda uns quantos que ela utilizou em momentos de ausência
sensual apenas para colmatar as carências de sexo como, por exemplo,
Mallefille, um rapaz ligado ao teatro. A par desta vida movimentada não só
sentimentalmente como em correria constante entre a sua propriedade no campo (Nohant)
e Paris, Aurore encontrou espaço para fazer uma obra literária extraordinária
em número e em qualidade. Mais surpreendente, contudo, para mim, é a riqueza, o
contributo de Maurois para uma biografia excepcional que atesta o estudo,
pesquisa e conhecimento da personagem e da sua bibliografia. É um trabalho
notável, de grande fôlego, precisão e consistência narrativa. Não me lembro de
ter lido uma biografia assim tão entusiasta e sólida.
- A França está em estado de sítio devido à aprovação da nova Lei do
Trabalho. Com os franceses não se brinca. Eles não são mansos como nós. Ontem
uma viatura da Polícia com dois agentes dentro, foi incendiada no centro de
Paris. Os ocupantes escaparam por pouco. Outras acções por todo o país têm
acontecido dias a fio sempre com violência contra as forças da ordem. François
Holland, medíocre e fraco, tenta manter a determinação que nunca teve ao longo
do seu miserável mandato. A Europa do euro é uma paupérie. São muito fortes,
mas enclausurados naquele mastodonte edifício, em Bruxelas.
- Peguei de novo na roçadora e durante duas horas refiz o que as últimas
chuvas destruíram. Trabalho duro sobretudo quando o sol aquece demasiado.
Todavia, a berma da longa estrada que corre paralela aos meus domínios (para
utilizar uma expressão do século XVIII), ficou sem erva susceptível de pegar fogo
no verão. Resta-me voltar a aparar os relvados que foram transformados num
espaço de urtigas em pouco mais de um mês. Depois... depois é preciso recomeçar
tudo de novo.