quinta-feira, maio 19, 2016


Quinta, 19.
Vou transcrever o que li no Público. “Três irmãos, dois advogados e um economista, foram detidos pela Policia Judiciária por suspeita de envolvimento no sequestro e no homicídio de um empresário de Braga, João Paulo Fernandes, de 42 anos. Os suspeitos, que representaram  o empresário em vários processos judiciais e chegaram a ser seus sócios, ofereciam um esquema complicado para empresários em dificuldades esconderem o seu património, colocando-o a salvo dos devedores.” Surpreendidos? Atendendo ao que são hoje as centrais de advogados e os próprios causídicos, eu nem um pouco.

         - Estou completamente rendido ao trabalho de André Maurois. A tal ponto que ando a ler, como dizer, ao ralenti para terminar mais tarde e bem saborear as 560 páginas da vida de George Sand. De facto, ele dá-nos um retrato completo e fascinante da personalidade da escritora, a tal ponto – e isso é o melhor que pode acontecer a um autor – atira-nos para os braços de George (hei!, hei!), quero dizer, para a leitura da sua obra. Que personalidade! Que mulher fora do contexto do século XIX! Que vida turbulenta, a um tempo dolorosa e rica de emoções, em contraciclo com a sua época! A quantidade de amantes e amores que dormiram no seu leito, todos passados pelo crivo da sua escrita na forma de romances, diários, memórias: Sainte-Beuve, Chopin, Musset, Jules Sandeau, o barão Casimir Dudevant com casou, o advogado Michel de Bourges, a quem ela fez a vida negra devido ao facto de ele ser casado, Franz Liszt, a actriz Marie Dorval que julgo também ela/ele amou, para além de um grande número de outros mais ou menos célebres, e ainda uns quantos que ela utilizou em momentos de ausência sensual apenas para colmatar as carências de sexo como, por exemplo, Mallefille, um rapaz ligado ao teatro. A par desta vida movimentada não só sentimentalmente como em correria constante entre a sua propriedade no campo (Nohant) e Paris, Aurore encontrou espaço para fazer uma obra literária extraordinária em número e em qualidade. Mais surpreendente, contudo, para mim, é a riqueza, o contributo de Maurois para uma biografia excepcional que atesta o estudo, pesquisa e conhecimento da personagem e da sua bibliografia. É um trabalho notável, de grande fôlego, precisão e consistência narrativa. Não me lembro de ter lido uma biografia assim tão entusiasta e sólida.

         - A França está em estado de sítio devido à aprovação da nova Lei do Trabalho. Com os franceses não se brinca. Eles não são mansos como nós. Ontem uma viatura da Polícia com dois agentes dentro, foi incendiada no centro de Paris. Os ocupantes escaparam por pouco. Outras acções por todo o país têm acontecido dias a fio sempre com violência contra as forças da ordem. François Holland, medíocre e fraco, tenta manter a determinação que nunca teve ao longo do seu miserável mandato. A Europa do euro é uma paupérie. São muito fortes, mas enclausurados naquele mastodonte edifício, em Bruxelas.


         - Peguei de novo na roçadora e durante duas horas refiz o que as últimas chuvas destruíram. Trabalho duro sobretudo quando o sol aquece demasiado. Todavia, a berma da longa estrada que corre paralela aos meus domínios (para utilizar uma expressão do século XVIII), ficou sem erva susceptível de pegar fogo no verão. Resta-me voltar a aparar os relvados que foram transformados num espaço de urtigas em pouco mais de um mês. Depois... depois é preciso recomeçar tudo de novo.