Quarta, 18.
Vivi uma noite transfigurada. A catadupa
de sonhos e pesadelos vieram habitá-la e rente à manhã uma decisão estava
tomada: eliminar o capítulo em que eu havia trabalhado dois dias a fio com
enormes incertezas – o que foi feito in
petto logo que pus os pés no chão.
- Eu gostaria de saber quanto nos custa a organização policial que
sustem a turbamulta de fanáticos que segue as equipas de futebol. Quanto me
cabe a mim pagar desse bolo gigantesco que o Estado gasta a conter as fúrias e
os desvios mentais dos adeptos, sendo certo que o Governo se deixou alienar por
uma actividade que hoje não contém. Um pouco como o que aconteceu com os bancos
e as multinacionais que controlam os Estados, submetem multidões, derrubam
direitos, alteram tratados, traficam, desviam milhões, enfim, fazem o que lhes
muito bem apetece. Visto de fora, o que me parece é que os governos preferem pastorear
os mais fracos e deixar à solta e com vénia os mais fortes. Foi a política do “socialista”
José Sócrates, é a de François Holland.
- Telefonou-me várias vezes até que me apanhou. Queria desabafar porque
não aguentava a falta de dinheiro consumido pelos impostos, porque os amigos
estavam a suicidar-se devido a dívidas, por... Tentei acalmá-lo como pude, a
ele que tendo sido um alto funcionário da Justiça se via hoje rodeado do pânico
de um mundo que está a cair aos bocados à sua volta. A adaptação à pobreza é dolorosa,
porque nos prometeram aquilo que sabiam não tinham para dar. Alain diz de outro
modo: On ne nous a rien promis. É
mais honesto e a vida pode ser tudo e nada, embora para Kierkegaard o phatos amoroso fosse o alvo. Mas estávamos
noutra época e noutro contexto.