quarta-feira, maio 18, 2016

Quarta, 18.
Vivi uma noite transfigurada. A catadupa de sonhos e pesadelos vieram habitá-la e rente à manhã uma decisão estava tomada: eliminar o capítulo em que eu havia trabalhado dois dias a fio com enormes incertezas – o que foi feito in petto logo que pus os pés no chão.

          - Eu gostaria de saber quanto nos custa a organização policial que sustem a turbamulta de fanáticos que segue as equipas de futebol. Quanto me cabe a mim pagar desse bolo gigantesco que o Estado gasta a conter as fúrias e os desvios mentais dos adeptos, sendo certo que o Governo se deixou alienar por uma actividade que hoje não contém. Um pouco como o que aconteceu com os bancos e as multinacionais que controlam os Estados, submetem multidões, derrubam direitos, alteram tratados, traficam, desviam milhões, enfim, fazem o que lhes muito bem apetece. Visto de fora, o que me parece é que os governos preferem pastorear os mais fracos e deixar à solta e com vénia os mais fortes. Foi a política do “socialista” José Sócrates, é a de François Holland.   


         - Telefonou-me várias vezes até que me apanhou. Queria desabafar porque não aguentava a falta de dinheiro consumido pelos impostos, porque os amigos estavam a suicidar-se devido a dívidas, por... Tentei acalmá-lo como pude, a ele que tendo sido um alto funcionário da Justiça se via hoje rodeado do pânico de um mundo que está a cair aos bocados à sua volta. A adaptação à pobreza é dolorosa, porque nos prometeram aquilo que sabiam não tinham para dar. Alain diz de outro modo: On ne nous a rien promis. É mais honesto e a vida pode ser tudo e nada, embora para Kierkegaard o phatos amoroso fosse o alvo. Mas estávamos noutra época e noutro contexto.