Sexta, 15.
Que sociedade é esta que não a reconheço.
Disseram-nos que com a democracia todos nós entraríamos num período feliz,
solidário, culto, com mais instrução, protegido, próspero, mais humano e mais
justo, mas o que aconteceu, salvo raríssimas excepções, foi a hecatombe, a
miséria, a pobreza, a banalidade, o laxismo, o salve-se-quem-puder, cada um por
si e Deus por todos, numa desordem e instabilidade que não favorece ninguém e
colocou a sociedade no todo ao abandono e desespero. A imagem da juventude nos
seus vários aspectos e vivências, é disso espelho e prova. Parece que nunca as
famílias andaram tão desestruturadas, nunca os jovens viveram à deriva, sem
projectos, mergulhados num mundo de consumo global, quase animalesco, constituído
por coisas medíocres – roupas de marca, telemóveis, gadgets - que os afunda em fantasias
idiotas, de pretensa importância, onde não lhes é ensinado o que verdadeiramente
serve a sua felicidade como hoje. Não lhes construíram estruturas sólidas,
baseadas na cultura como forma de conhecimento enriquecedor, de aprofundamento
da sua identidade, de capacidade de integração no movimento entusiasmante
daqueles que investigam a história, pensam o mundo e as suas transformações.
Pelo contrário, disseram-lhes que o ensino, a cultura é o único modo de ganhar
muito dinheiro, de ser superior aos demais, de poder ascender ao nível
económico daqueles novos-ricos que a riqueza não consegue limpar a imagem
labrega e ridícula que exibem com orgulho. Aqui chegados, não admira que estas
gerações, tenham dentro de si a violência, o desprezo pela vida humana, como se
milhões de anos de progresso civilizacional não tivessem para elas passado da
barbárie de que são exemplos revoltantes a morte brutal dos jovens
assassinados, maltratados, violados, humilhados nos bairros de ruas sombrias,
becos escondidos e prédios esventrados, construídos com o único propósito de
ganhar dinheiro rápido para guetos de gente atirada como lixo para os subúrbios
das grandes cidades que têm enchido os jornais e os ecrãs de televisão. E
contudo, existem responsáveis e esses são todos os políticos que prometeram a
democracia real, mas com os seus tristes exemplos mais não fizeram que criar
uma sociedade sinistra onde vale tudo menos ser-se honesto e íntegro.
- Anda à deriva um barco carregado com 300 pessoas – homens, mulheres,
crianças – vindos da Birmânia em busca de uma vida melhor na Malásia ou para
fugir da fome e do horror no Bangladesh. Ninguém os quer receber. Há semanas
que são empurrados para um mar e outro, porque os países do Sudeste asiático
não os querem para que não se repita ali o que se vê nas costas italianas. Não
são seres humanos. São coisas que não servem para nada e podem por isso
apodrecer no mar. Mas queiram ou não os países ricos, estes abandonados à sua
sorte, são a imagem insuportável da sua vergonha e indiferença. Ao todo parece
que há neste momento 8 mil emigrantes que ninguém quer receber. Uma vergonha
insuportável. Este mundo está poluído de injustiças e egoísmos.