sexta-feira, maio 15, 2015

Sexta, 15.
Que sociedade é esta que não a reconheço. Disseram-nos que com a democracia todos nós entraríamos num período feliz, solidário, culto, com mais instrução, protegido, próspero, mais humano e mais justo, mas o que aconteceu, salvo raríssimas excepções, foi a hecatombe, a miséria, a pobreza, a banalidade, o laxismo, o salve-se-quem-puder, cada um por si e Deus por todos, numa desordem e instabilidade que não favorece ninguém e colocou a sociedade no todo ao abandono e desespero. A imagem da juventude nos seus vários aspectos e vivências, é disso espelho e prova. Parece que nunca as famílias andaram tão desestruturadas, nunca os jovens viveram à deriva, sem projectos, mergulhados num mundo de consumo global, quase animalesco, constituído por coisas medíocres – roupas de marca, telemóveis, gadgets - que os afunda em fantasias idiotas, de pretensa importância, onde não lhes é ensinado o que verdadeiramente serve a sua felicidade como hoje. Não lhes construíram estruturas sólidas, baseadas na cultura como forma de conhecimento enriquecedor, de aprofundamento da sua identidade, de capacidade de integração no movimento entusiasmante daqueles que investigam a história, pensam o mundo e as suas transformações. Pelo contrário, disseram-lhes que o ensino, a cultura é o único modo de ganhar muito dinheiro, de ser superior aos demais, de poder ascender ao nível económico daqueles novos-ricos que a riqueza não consegue limpar a imagem labrega e ridícula que exibem com orgulho. Aqui chegados, não admira que estas gerações, tenham dentro de si a violência, o desprezo pela vida humana, como se milhões de anos de progresso civilizacional não tivessem para elas passado da barbárie de que são exemplos revoltantes a morte brutal dos jovens assassinados, maltratados, violados, humilhados nos bairros de ruas sombrias, becos escondidos e prédios esventrados, construídos com o único propósito de ganhar dinheiro rápido para guetos de gente atirada como lixo para os subúrbios das grandes cidades que têm enchido os jornais e os ecrãs de televisão. E contudo, existem responsáveis e esses são todos os políticos que prometeram a democracia real, mas com os seus tristes exemplos mais não fizeram que criar uma sociedade sinistra onde vale tudo menos ser-se honesto e íntegro.


         - Anda à deriva um barco carregado com 300 pessoas – homens, mulheres, crianças – vindos da Birmânia em busca de uma vida melhor na Malásia ou para fugir da fome e do horror no Bangladesh. Ninguém os quer receber. Há semanas que são empurrados para um mar e outro, porque os países do Sudeste asiático não os querem para que não se repita ali o que se vê nas costas italianas. Não são seres humanos. São coisas que não servem para nada e podem por isso apodrecer no mar. Mas queiram ou não os países ricos, estes abandonados à sua sorte, são a imagem insuportável da sua vergonha e indiferença. Ao todo parece que há neste momento 8 mil emigrantes que ninguém quer receber. Uma vergonha insuportável. Este mundo está poluído de injustiças e egoísmos.