Quinta, 7.
Terminado a semana passada o Diário de
Gabriel Matzneff, entrou o de Marcello Duarte Mathias publicado há dias e
intitulado Diário da Abuxarda 2007-2014
na D. Quixote. Assim sendo, mantenho a leitura de o de Sartre, Orwell e agora
do nosso embaixador com esta entrada, dia 5 de Março de 2007: O próprio de qualquer censura política é o
excesso de zelo. Por uma razão simples: ninguém jamais será repreendido por ter
ido longe de mais. Ao invés, ai do manga-de-alpaca que, por inadvertência ou
ignorância, deixa passar o que não deve!
- Como em mim uma noite mal dormida é um episódio raro, estou aqui que
não posso com as consequências da de ontem que passei entre cá e lá, numa
enxurrada de diálogos turbulentos com ninguém e só às vezes comigo próprio. Todavia,
o acidente, não foi motivo para deixar de fazer o que se impõe aqui
diariamente. Esta manhã, para espanto da Piedade, andei de roçadeira em punho a
acertar as orlas do relvado na piscina e em volta das pedras que formam o fosso
romano que eu imaginei quando a mandei construir.
- Ontem almocei com a Alzira no Corte Inglês. Longa conversa que trouxe
até nós num aluvião os nossos antigos colegas da Latina. Alguns soube que já
faleceram, outros perderam-se nesse colectivo mar imenso onde vivem amarrados
ao destino na forma de uma pacata sobrevivência. Um dia também desaparecerão
sem ninguém dar por eles, cumprindo assim a passagem por este mundo onde só o
tempo os viu do princípio ao fim. A eles e a nós todos, almas perdidas nesta
terra de desencontros.
- Está um bonito dia, Helder. Não desesperes. Olha que “não há mais metafísica
no mundo senão chocolates...”
- Perante o que nos espera e já se observa na próxima campanha para as
legislativas, ocorre-me aquela frase de Churchill para de Gaule quando este,
contra a vontade de Lord Halifax, queria ler aos microfones da BBC o seu
primeiro “papel” à França Livre: “Em política é necessário aprender a dançar e
ligeiro.”