quinta-feira, maio 07, 2015

Quinta, 7.
Terminado a semana passada o Diário de Gabriel Matzneff, entrou o de Marcello Duarte Mathias publicado há dias e intitulado Diário da Abuxarda 2007-2014 na D. Quixote. Assim sendo, mantenho a leitura de o de Sartre, Orwell e agora do nosso embaixador com esta entrada, dia 5 de Março de 2007: O próprio de qualquer censura política é o excesso de zelo. Por uma razão simples: ninguém jamais será repreendido por ter ido longe de mais. Ao invés, ai do manga-de-alpaca que, por inadvertência ou ignorância, deixa passar o que não deve!

         - Como em mim uma noite mal dormida é um episódio raro, estou aqui que não posso com as consequências da de ontem que passei entre cá e lá, numa enxurrada de diálogos turbulentos com ninguém e só às vezes comigo próprio. Todavia, o acidente, não foi motivo para deixar de fazer o que se impõe aqui diariamente. Esta manhã, para espanto da Piedade, andei de roçadeira em punho a acertar as orlas do relvado na piscina e em volta das pedras que formam o fosso romano que eu imaginei quando a mandei construir.

         - Ontem almocei com a Alzira no Corte Inglês. Longa conversa que trouxe até nós num aluvião os nossos antigos colegas da Latina. Alguns soube que já faleceram, outros perderam-se nesse colectivo mar imenso onde vivem amarrados ao destino na forma de uma pacata sobrevivência. Um dia também desaparecerão sem ninguém dar por eles, cumprindo assim a passagem por este mundo onde só o tempo os viu do princípio ao fim. A eles e a nós todos, almas perdidas nesta terra de desencontros.

         - Está um bonito dia, Helder. Não desesperes. Olha que “não há mais metafísica no mundo  senão chocolates...”


         - Perante o que nos espera e já se observa na próxima campanha para as legislativas, ocorre-me aquela frase de Churchill para de Gaule quando este, contra a vontade de Lord Halifax, queria ler aos microfones da BBC o seu primeiro “papel” à França Livre: “Em política é necessário aprender a dançar e ligeiro.”