Quarta, 27.
Nesta época, por aqui, as árvores
oferecem o espectáculo grandioso dos frutos apetitosos. Hoje colhi um cabaz de
pêssegos que juro são do melhor que alguma vez comi: pela cor, perfume, sabor,
dimensão. Em breve estarão prontos para a mesa ou para compota, os damascos. A
seguir vêm as ameixas que já exibem um purpureado saudável, e depois delas as
peras, os figos, a diversa variedade de maçãs, as amêndoas, os dióspiros, as
uvas, e na entrada do Outono as romãs. A par deste pomar que embriaga,
permanecem as laranjas e os limões decorando as árvores mais próximas da casa.
Até à minha partida para Paris, antes de colher os medronhos, não costumo
comprar nenhuma espécie de fruta. Louvado seja Deus! Tudo o que aqui cultivo,
chega e sobra para mim, para os melros, para os amigos e vizinhos quando vêm
abastecer-se do mais luxuoso e autêntico bio que põe equidistante toda a
porcaria que se vende na capital e arredores chamado fruto.
- Quando lhes convém, quero dizer quando são atacados na sua ganância e
inveja, os senhores do futebol reagem denunciando aqueles que cometem toda a
espécie de crimes. A notícia caiu sucinta na internet pelo Público online. “Sete
altos responsáveis da FIFA foram detidos na madrugada desta quarta-feira em
Zurique, na Suíça, na sequência de uma investigação norte-americana que põe em
causa as actividades do órgão máximo do futebol na América Latina. Esta operação
coincidiu com uma segunda investigação distinta, mas lançada também nesta
quarta-feira. Esta segunda operação tem em vista suspeitas de ingerência e
lavagem de dinheiro nas organizações dos próximos Mundiais de futebol, em 2018,
na Rússia, e em 2022 no Qatar.” Isto cheira-me a guerra suja entre gangs da
república do futebol.
- Cá em casa estão 22 graus, lá fora 36. Todavia, no interior está-se
bem e aproveito para trabalhar um pouco depois de fazer uma sesta de quinze
minutos. O prefácio ao Diário de José Régio redigido por Eugénio Lisboa e publicado
pela Imprensa Nacional, é por si só uma peça admiravelmente bem escrita e
pensada. O ensaísta e escritor é de pura água e portanto do melhor entre os
seus contemporâneos. Não o conheço pessoalmente, mas basta ler o que escreve
para se perceber da sua imensa cultura e arte de sedução. Escreve como se
escrevia quando a língua era respeitada e quando a cultura era amada e desejada
como atributo dimensional daquele que abraça a totalidade do ser e nele busca a
sua identidade. Perfeitamente equiparado àquele que se propõe apresentar
pegando-o pelos interstícios sagrados da sua cintilante obscuridade, Eugénio
Lisboa alarga-se em considerações que não só valorizam o autor dos Poemas de Deus e do Diabo, como nos
empurra a descobrir tudo o que o diarista por razões que a própria razão
desconhece (Pascal) nos esconde.