quarta-feira, maio 27, 2015

Quarta, 27.
Nesta época, por aqui, as árvores oferecem o espectáculo grandioso dos frutos apetitosos. Hoje colhi um cabaz de pêssegos que juro são do melhor que alguma vez comi: pela cor, perfume, sabor, dimensão. Em breve estarão prontos para a mesa ou para compota, os damascos. A seguir vêm as ameixas que já exibem um purpureado saudável, e depois delas as peras, os figos, a diversa variedade de maçãs, as amêndoas, os dióspiros, as uvas, e na entrada do Outono as romãs. A par deste pomar que embriaga, permanecem as laranjas e os limões decorando as árvores mais próximas da casa. Até à minha partida para Paris, antes de colher os medronhos, não costumo comprar nenhuma espécie de fruta. Louvado seja Deus! Tudo o que aqui cultivo, chega e sobra para mim, para os melros, para os amigos e vizinhos quando vêm abastecer-se do mais luxuoso e autêntico bio que põe equidistante toda a porcaria que se vende na capital e arredores chamado fruto. 

         - Quando lhes convém, quero dizer quando são atacados na sua ganância e inveja, os senhores do futebol reagem denunciando aqueles que cometem toda a espécie de crimes. A notícia caiu sucinta na internet pelo Público online. “Sete altos responsáveis da FIFA foram detidos na madrugada desta quarta-feira em Zurique, na Suíça, na sequência de uma investigação norte-americana que põe em causa as actividades do órgão máximo do futebol na América Latina. Esta operação coincidiu com uma segunda investigação distinta, mas lançada também nesta quarta-feira. Esta segunda operação tem em vista suspeitas de ingerência e lavagem de dinheiro nas organizações dos próximos Mundiais de futebol, em 2018, na Rússia, e em 2022 no Qatar.” Isto cheira-me a guerra suja entre gangs da república do futebol.


         - Cá em casa estão 22 graus, lá fora 36. Todavia, no interior está-se bem e aproveito para trabalhar um pouco depois de fazer uma sesta de quinze minutos. O prefácio ao Diário de José Régio redigido por Eugénio Lisboa e publicado pela Imprensa Nacional, é por si só uma peça admiravelmente bem escrita e pensada. O ensaísta e escritor é de pura água e portanto do melhor entre os seus contemporâneos. Não o conheço pessoalmente, mas basta ler o que escreve para se perceber da sua imensa cultura e arte de sedução. Escreve como se escrevia quando a língua era respeitada e quando a cultura era amada e desejada como atributo dimensional daquele que abraça a totalidade do ser e nele busca a sua identidade. Perfeitamente equiparado àquele que se propõe apresentar pegando-o pelos interstícios sagrados da sua cintilante obscuridade, Eugénio Lisboa alarga-se em considerações que não só valorizam o autor dos Poemas de Deus e do Diabo, como nos empurra a descobrir tudo o que o diarista por razões que a própria razão desconhece (Pascal) nos esconde.