Segunda, 4.
Tenho andado tão bem de saúde! Desde que
tirei uns dias de férias e pude ficar afastado do romance, senti-me em harmonia
comigo mesmo, com a vida, com a solidão que trato como irmã, com a Natureza que
me cerca. Referencio isto porque esta manhã ataquei de novo o livro espero pela
derradeira vez. Estas duas semanas foram de tal modo sossegadas e gozadas a sós
comigo que nem a Lisboa fui, tendo recusado um almoço com a Alzira, uma ida ao
Algarve com Fr. Hélcio pelo seu aniversário, dia 30, uma ida ao cinema com o
Príncipe, um jantar com a Maria José. Não sei quantas revisões fiz eu já. Em
todas encontro pequenas falhas, desajustes linguísticos, erros ortográficos.
- Black andou estranho anteontem, parecia comprometido, não se deixava
apanhar nem para uma carícia. Só compreendi a razão quando entrei na cozinha e
vi a frigideira onde tinha cozinhado um prato de peixe vazia. Ele sabe que não
pode trepar à bancada de mármore e já apanhou uma palmada por o ter feito
noutra ocasião. Agora anda arredio, pouco pára em casa, mia à porta quando tem
fome, come e desanda logo. Vadio, mas esperto.
- Nesta altura do ano, com ou sem sol, à minha porta, no caminho de
terra batido, passam ao fim-de-semana rebanhos de ciclistas. Parecem borboletas
de muitas cores coloridas, sobrevoando a paisagem verdejante. Ao longo do
percurso que a corrida traçou, existem pequenas bandeiras a assinalar a
passagem obrigatória. Às vezes chegam a prendê-las no meu portão, nos ramos dos
pinheiros e noto que este lugar perdido do mundo, toma a pouco e pouco
importância para estes desportistas amantes da Natureza e do desporto ao ar
livre. Quando as manhãs acordam ensolaradas e o tempo enche abundante e
displicente, cheio de pequenas delícias dissimuladas, a que se juntam as vozes
daqueles que, montados nos velocípedes ligeiros, dão outra dimensão a paisagem e
ao tempo de súbito derramado a granel sobre o silêncio espesso que aqui mora
esquecido do burburinho que enche os sítios dos veraneantes. Instala-se aos
domingos uma festa, contribuindo para este abalo que me devora, dando-me a sensação
de que estou em permanência de férias num lugar aprazível, luxuriante, onde a
vida decorre ao ritmo das estações, com o seu quê de mistério atravessado do viço
dos aromas e do silêncio transparente das manhãs claras, ante-anunciadas, sobrepujadas
dos cânticos que acordam todos os seres que mergulharam em noites serenas e
longas, plasmadas de felicidade e confiança nas auroras a provir.
- Curiosa a globalização das notícias sobre a greve na TAP. Todos os órgãos
de informação estão do lado da prepotência do Governo.