segunda-feira, maio 04, 2015

Segunda, 4.
Tenho andado tão bem de saúde! Desde que tirei uns dias de férias e pude ficar afastado do romance, senti-me em harmonia comigo mesmo, com a vida, com a solidão que trato como irmã, com a Natureza que me cerca. Referencio isto porque esta manhã ataquei de novo o livro espero pela derradeira vez. Estas duas semanas foram de tal modo sossegadas e gozadas a sós comigo que nem a Lisboa fui, tendo recusado um almoço com a Alzira, uma ida ao Algarve com Fr. Hélcio pelo seu aniversário, dia 30, uma ida ao cinema com o Príncipe, um jantar com a Maria José. Não sei quantas revisões fiz eu já. Em todas encontro pequenas falhas, desajustes linguísticos, erros ortográficos.

         - Black andou estranho anteontem, parecia comprometido, não se deixava apanhar nem para uma carícia. Só compreendi a razão quando entrei na cozinha e vi a frigideira onde tinha cozinhado um prato de peixe vazia. Ele sabe que não pode trepar à bancada de mármore e já apanhou uma palmada por o ter feito noutra ocasião. Agora anda arredio, pouco pára em casa, mia à porta quando tem fome, come e desanda logo. Vadio, mas esperto. 

         - Nesta altura do ano, com ou sem sol, à minha porta, no caminho de terra batido, passam ao fim-de-semana rebanhos de ciclistas. Parecem borboletas de muitas cores coloridas, sobrevoando a paisagem verdejante. Ao longo do percurso que a corrida traçou, existem pequenas bandeiras a assinalar a passagem obrigatória. Às vezes chegam a prendê-las no meu portão, nos ramos dos pinheiros e noto que este lugar perdido do mundo, toma a pouco e pouco importância para estes desportistas amantes da Natureza e do desporto ao ar livre. Quando as manhãs acordam ensolaradas e o tempo enche abundante e displicente, cheio de pequenas delícias dissimuladas, a que se juntam as vozes daqueles que, montados nos velocípedes ligeiros, dão outra dimensão a paisagem e ao tempo de súbito derramado a granel sobre o silêncio espesso que aqui mora esquecido do burburinho que enche os sítios dos veraneantes. Instala-se aos domingos uma festa, contribuindo para este abalo que me devora, dando-me a sensação de que estou em permanência de férias num lugar aprazível, luxuriante, onde a vida decorre ao ritmo das estações, com o seu quê de mistério atravessado do viço dos aromas e do silêncio transparente das manhãs claras, ante-anunciadas, sobrepujadas dos cânticos que acordam todos os seres que mergulharam em noites serenas e longas, plasmadas de felicidade e confiança nas auroras a provir.


         - Curiosa a globalização das notícias sobre a greve na TAP. Todos os órgãos de informação estão do lado da prepotência do Governo.