terça-feira, maio 24, 2022

Terça, 24.

Terminei a leitura do volume 2 do Diário de Eugénio Lisboa. As 340 páginas estão repletas de mimos à esquerda e à direita. É impressionante como a classe dos fazedores de cultura se estima entre si, a inveja que a devora, a intriga que os arrasa. Todos se reconhecem génios, candidatos ao Nobel, com obra imortal. A humildade e o transitório não habita neles. Um exemplo. “Os Cadernos de Lançarote que se parecem muito com a sala de troféus do Benfica...” diz Vergílio Ferreira em carta a Eugénio Lisboa, e a resposta deste: “O Nobel não tem importância – e o Saramago ainda menos. E quase desejava – para o Saramago – (estamos em Junho ‘ 94) o rebuçado envenenado que é o galardão sueco. Que espantoso revelador o prémio não seria – para os que ainda precisam de que o autor do Memorial se revele como é: um provinciano de cérebro pequenino. (p. 245)”   

         - Precisava de esclarecimentos sobre o IRS e, depois de tentar aqui em Palmela, fui a Lisboa à minha antiga repartição de Finanças. Encontrei outro horror! Que triste é ter nascido neste país! O cidadão está, pura e simplesmente, abandonado à sua sorte. A funcionária disse-me que só por marcação ou então que aparecesse pelas cinco da manhã como fazem outros para marcar vez!!! 

         - O poder ofusca esta gente. Depois admiram-se que os cidadãos clamem por um ditador qualquer que ele seja. Veja-se o caso da sexta vaga de covid-19. Parece que o Governo, este que se sucedeu, não aprendeu nada com o modo e maneira de tratar o assunto. Eu até podia perceber a avareza da ministra da Saúde quanto aos testes se os serviços de retaguarda funcionassem bem. Mas os quase 800 mil funcionários públicos são lengões, não estão ali para ser importunados, e os protestos são tantos que não há justiça que os julgue. Quando digo que a nossa classe política é medíocre, penso na forma como governa, no desajuste entre a realidade e a fantasia, entre a propaganda e o martírio de milhões de portugueses.  

         - Um vento doido cirandou aí todo o santo dia. Pouco fiz lá fora, atacado da moleza que paralisa. E também aqui dentro se algo de jeito fiz, ficou traduzido nestas linhas.