sábado, maio 21, 2022

Sábado, 21.

Vejo obliquamente a passagem de Marcelo R. de Sousa por Timor. Mas quem me atrai a atenção, é o ministro dos Negócios Estrangeiros que o segue com cara de condenado à morte. E a coisa não é para menos, depois do que Marcelo disse dele. Costa nem se dá conta do martírio a que o seguidismo partidário obriga. Dir-me-ão que Gomes Cravinho podia ter declinado o cargo. É verdade mas para isso o condenado à humilhação tinha que renunciar ao gosto do poder e a tudo de bom que ele envolve. O poder é mais forte que a dignidade, a honra e o amor próprio. É no limite uma forma de escravidão assustadora. 

         - Telefonei ao João Corregedor a perguntar como podia chegar ao CCB partindo da Avenida de Roma. Logo ele me solicita se me pode acompanhar no meu interesse por ver a exposição Julião Sarmento. Ante a afirmativa, assim que o comboio pára na estação, lá está ele à minha espera na gare. Digo-lhe: “Que honra ter alguém a receber-me à saída do comboio como outrora quando famílias inteiras vinham esperar os entes queridos que desciam de avião, de comboio ou camioneta! Nesse tempo os encontros eram uma festa.” Riu-se. Instantes depois, estávamos sentados no 727 para viagem de uma hora até Belém. Fazia calor e a dada altura a condutora, uma mulher feia como o trovões, de cabelos negros e pernas curtas, moustache negro, ligou o ar condicionado. Atravessámos Lisboa indo pelos bairros sossegados que noutros tempos eu calcorreei, Rato, Alcântara, Santos, nunca entrando na zona ribeirinha, vencendo ruas e becos, passeios estreitos atapetados de esplanadas, com turistas por todo o lado, sardaniscas ao sol, naquela confusão que o turismo introduz quando toma de assalto cidades e aldeias. Depois de um tão longo e confuso itinerário, assim que nos apeámos em frente ao mosteiro de Santa Maria de Belém, disparámos para o último café do murete que dá acesso ao Jardim Tropical que o meu acompanhante não conhecia, para uma bica e pastel de nata à maneira, evitando as filas incríveis para a fábrica dos ditos cujos. De ali fomos ao Museu Berardo para nos demorarmos para cima de uma hora, pela minha parte extasiado ante a força, a ousadia, a sensualidade e até a sexualidade do pintor que eu conheci e de quem se contavam histórias deliciosas acerca da sua conduta com mulheres de vários gostos e tendências. Reservo para amanhã uma análise mais assertiva do que vi, porque daqui a nada vou almoçar e de seguida ao Corte Inglês liquidar a conta do mês passado (o último dia é amanhã).  

         - Eu não sou de ouvir mal, oiço um mosquito a metros de distância e, por isso, distingui nitidamente o que diziam na TSF da existência de um clube de futebol com o nome de Aitraque. Será que escutei bem? Ou a maluqueira invade-me sem eu dar conta. Se é verdade, Deus me livre de assistir a um jogo daqueles jogadores... sem máscara. Possa!