sábado, maio 28, 2022

Sábado, 28.

Os fins-de-semana aqui são a costumeira talega de trabalho. Não me queixo. Pelo contrário sempre fui um homem de trabalho, sempre amei o que fazia ou fui fazendo ao longo dos anos. Por isso, não compreendo a velhada desocupada que vive nos tabuleiros chiques ou remediados das cidades, a existência a rastejar nos centros comerciais por insuportáveis horas nos apartamentos, levantando desta para aquela cadeira, a espreitar quem passa na rua, a olhar o declínio do dia e a formação da Lua lá longe, muito longe da monotonia que lhes sufoca os dias e as maratonas de noites em blasfémias. Assim,  comecei o dia a regar seguido de ida aos pequenos agricultores do Pinhal Novo, sem que antes tivesse atestado a máquina da roupa da semana e quando voltei a pusesse a secar ao sol e de seguida a apanhasse para a arrumar no sítio costumeiro onde a Piedade a recolherá para a passar a ferro. Depois fiz dois pratos para arquivo, o almoço, e enquanto ouvia o José Milhazes fui descascando, partindo em múltiplos pedaços a única abóbora que este ano consegui produzir, para fazer a respectiva compota em horas ao lume de onde saíram cinco frascos. Felicidade suprema: ainda me sentei à secretaria e enchi as páginas 64 e 65 do romance. Instantes destes, compensam todo o percurso de vida que foi o meu e mimoseiam o espírito do maior e mais íntimo estado de graça. 

         - O meu amigo e atento leitor deste blogue, Filipe, volta que não volta, incentiva-me a entrar nisto e naquilo porque entende que eu não devo estar fechado em casa e sou mal empregado mantido na escuridão. Vai daí, mandou-me desta feita (noutras alturas envia-me nomes de editores e editoras) um pequeno filme onde se vê Rui Reininho, amigo do pintor Fernando Gaspar, à conversa com o artista no seu atelier. “Acho que seria interessante para o Hélder (ele põe o acento) fazer um podcast deste para os seus leitores.” Respondi dizendo: “Prezo a minha privacidade e defendo os meus amigos, depois estou tão absorvido pelo meu trabalho... mas os filmes são interessantes e o Reininho é uma personagem.”   Bom, Filipe, bom Filipe!