sábado, maio 14, 2022

Sábado, 14.

Ontem estive com a Teresa e o João na Brasileira e depois com este no Adega da Mó a almoçar depois de recusar a Benard para onde a Teresa me queria arrastar. Em verdade, do que eu não gosto é dos gostos gastronómicos do João para quem os enchidos, as orelhas de porco e cozido à portuguesa são gulodices de comer e chorar por mais. Daí que antes o tivesse arrastado para a Confeitaria Nacional cujos pratos, em quantidade e qualidade, são para mim satisfatórios. Não abancámos porque o menu do dia não me satisfazia e muito menos ao meu companheiro. Bom. No restaurante esteve-se bem, climatizado, os preços não aumentaram por aí além e a qualidade está no limite para o tipo de estabelecimento. Conversa variada, pouco ou nada sobre política, quando muito uma leve defesa do ex-ministro da Administração Interna atribuindo a falta ao condutor da viatura oficial e logo contestada por mim com esta simples pergunta: “Se fores a 160 km. cometes uma infracção e pões a tua e a vida dos ocupantes do carro em risco, ou não?” A ideia do João que já teve carro oficial, é que quando os governantes se deslocam, sobretudo o Chefe de Estado, têm de o fazer sempre a alta velocidade para evitar atentados. Como perdi o norte ao país onde vivo, todo o delírio é consentido... Atentados neste país são mais que muitos, não é verdade? Para o meu amigo, o resultado é só um: o empregado da autoestrada não devia ter atravessado a mesma. No outro mundo, o infeliz deve ter-se contorcido. 

         - Não apreciei ver a bagunça do Chiado. O turismo altera, instala a confusão, desarruma a malha citadina, contribui para uma certa alienação colectiva, varre com a sua presença as tradições, os hábitos de vida, vive da exploração dos nativos, força a desigualdade, inflaciona os preços, afasta os velhos e os novos dos centros urbanos, descolora a luz com a hegemonia e força a aceitação dos viandantes que pouco ou nada se interessam pela sua cultura, modo de viver, história e quotidianidade. 

         - Enforcou-se na cadeia onde estava preso o banqueiro João Rendeiro. Que a sua morte seja exemplo (como as dos oligarcas, há quatro dias apareceu outro morto) para a massa crescente de pacóvios que se julga alguém acenando com os milhões que ganharam com trafulhices e roubos de vária ordem. A sua arrogância, a sua ganância, não cabia na ordem humilde, honesta e simples da vida de milhões de seres humanos. Preferiu suicidar-se sem grandeza, tragicamente, humilhado e rendido à sua própria e miserável natureza, ao lado de criminosos que já haviam tentado liquidá-lo. Se na terra ninguém lhe perdoa, que Deus tenha compaixão dele. Que se conste não levou ponta de nota de 1000 euros, nem centavo de moeda.