terça-feira, janeiro 05, 2021

Terça, 5.

Carlos do Carmo é a imagem da hipocrisia das televisões. Nos últimos anos, dizia-me ontem o João Corregedor ele, fadista, por ter fama de comunista, nenhum canal o convidava para o quer que fosse. Este lamento fazia ao meu amigo o cantor com frequência. Agora, para não perderem o comboio da popularidade fácil, ocupam-se dele como se fosse um dos seus. Que mundo idiota ! 

         - Os hospitais estão de novo a abarrotar de doentes por Covid. A quem tem que se assacar responsabilidades? Ao Governo, naturalmente e ao Chefe de Estado. Ambos preocupados com os votos que cada um julga pertencerem-lhe, abriram mãos no Natal e o resultado está à vista. Se fossem responsáveis e não pensassem só nos seus interesses partidários, não teríamos agora tanto sofrimento e tantos médicos e enfermeiros no limite das suas forças.

         - O caso do procurador José Guerra não cessa de crescer; até os colegas de Bruxelas vêm dizer que uma fraude é sempre uma fraude e em qualquer língua. A ministra da Justiça, tenta passar pelos pingos da tempestade e dá a imagem muito habitual do mundo político: habituados a mentir, ao faz de conta, já nem notam que falsificar documentos é crime. 

         - O termóstato do carro, esta manhã, registava – 5 graus. Imagino que a noite deve ter sido muito fria porque o campo despertou alvo. Ao contrário do que é habitual, estive na cozinha a confeccionar dois pratos para arquivo. Li Green e Francisco José Viegas lá fora ao sol. Alimentei a salamandra da sala de jantar onde almocei e a do salão. É um trabalho como qualquer outro, com a desvantagem de ser ininterrupto. Dia sereno. Pouco trabalho no romance. Escrevo no escritório, o radiador aceso, a paisagem solarenga diante dos meus olhos imóveis. Terminei o ano de 2020 com 226 páginas. Se multiplicarmos este número pelas últimas 4 décadas (o Diário publicado fecha em 1979) dará um grosso volume com 9040 páginas! É obra!