segunda-feira, janeiro 25, 2021

Segunda, 25. 

“Para teu mal os poderes que mandam já cuidaram que nunca mais haverá futuro à  moda  antiga, com liberdade, alegria, altos e baixos, perdas e ganhos, o que te espera é o regulamento, a obediência, duas máscaras, depois três, e por enquanto a multa. O arame farpado virá a seguir.” É deste modo que o meu caro escritor Rentes de Carvalho se exprime. Não me parece, apesar das incertezas, que o futuro seja a botarra sobre as nossas cabeças. Eu sou muito céptico quanto a António Costa, mas, honra lhe seja feita, daí a pensar haver nele sinais de ditador... Haverá, quando em vez, laivos de autoritarismo, mas centelha antidemocrática, não. 

         - A Rússia acordou anteontem nas ruas. Milhares de pessoas pediram a libertação de Navalny e a polícia duma extrema violência, carregou forte e feio. Pelo menos 2500 detenções. A indignação dos manifestantes não era apenas pela injustiça contra o rival de Putin, era também pela corrupção que consentiu que Putin tenha adquirido uma mansão na Crimeia no valor de 1,2 mil milhões de euros! Eu vi o mostro num canal internacional; Versalhes ao lado daquela grandiosidade não passa de um galinheiro. Viva o comunismo, o partido dos trabalhadores (como Putin)! O Presidente da Rússia e o da China, são personagens aterradoras. 

         - Temia-se que André Ventura ficasse em segundo lugar nas eleições à Presidência da República, mas foi Ana Gomes que os portugueses elegeram. Marcelo, como se previa, ganhou por larga margem. A abstenção que ninguém quer reconhecer como uma ameaça à democracia, passou os 60 por cento. Todavia, o mais impressionante, foi o facto de Ventura ter banido com os comunistas das zonas habituais de conforto e acção partidária - praticamente todo o Alentejo. E ainda mais incrível, foi ver a esquerda, toda, ser banida da orla política, reduzida a míseras percentagens: João Ferreira 4,32 (um senhor), Marisa Martins 3,95 (uma romântica), Ana Gomes 12,97 (merecia melhor).  Espero agora que a esquerda se reduza à sua insignificância útil à democracia, mas sem tomar de assalto a consciência nacional, como se fosse a guardiã de valores únicos e hegemónicos de que começamos todos a ficar fartos. 

         - Há, todavia, um pormenor que não quero deixar passar: a propaganda de feira durante a campanha que preparou o povo para o pior. Aquilo eram só catástrofes como se já não tivéssemos suficientes: haveria segunda volta, a abstenção seria mais de 70 por cento, o Ventura tomaria de assalto o país e assim. Tudo isto para que todos no final ficassem bem e a fotografia das eleições saísse com a nitidez que esconde as aflições. Criam-se expectativas para depois se dizer que a abstenção não foi tão má como se pensava. Num país tão minúsculo em todos os sentidos, somos grandes na grandeza de candidatos a Belém: nada menos que sete! 

         - Enfim, hoje, tive a alegria ao cabo de nove meses de luta com o hotel de Budapeste, de ver chegar à minha conta bancária as centenas de euros da estadia que não pude realizar devido à pandemia. 

         - Fui a Lisboa de carro. Desde a estada da Annie cá em casa há dois anos, que não utilizava a viatura para deslocações à capital. Quase nenhum trânsito na auto-estrada como dentro da cidade. Na volta comprei o jantar no Vitta Roma. Amanhã falarei de tudo isso. Tempo em sintonia com as aflições humanas. Ontem várias horas ao telefone: Gi, frei Hélcio, Carlos Nieto, Idalina , Johnson.