sexta-feira, janeiro 29, 2021

Sexta, 29.

Um pouco à socapa, sob a protecção do SARS-Cov-2, os deputados da esquerda fazendo crescer com as suas habituais imposições e radicalismos a sua reduzidíssima expressão no contexto nacional, querem legalizar a eutanásia. Talvez eles tenham razão. Se a lei for aprovada, chega mesmo a tempo para ser posta em prática e num ápice desocupar camas e aliviar as despesas do Estado. Só para memória futura: com as abstenções do PCP, Chega e Verdes. Transcrevo da página 273, do livro de Francisco José Viegas, A Luz de Pequim: “Tudo começa pelo fim, pela morte. No fundo, agora, daqui em diante, na vossa vida tudo é sobre a morte.” 

         - O artigo de Isabel do Carmo no Público de hoje, devia ser lido por todos os meus leitores. Eu não partilho de maneira nenhuma das suas ideias extremistas e do seu passado violento, mas a prosa que acabei de ler abre uma clareira para nos defendermos da Covid-19. Ela foi contagiada, presumivelmente no Natal, e todos os que estiveram à sua mesa. Esteve uma semana no Santa Maria e descreve o ciclo da doença com a autoridade que sendo médica possuiu e a humildade que estando doente a circunscreve. Pelo que narra, é de louvar a sua deferência que não escapou para a soberba ou a cagança; como qualquer português anónimo, foi tratada no tempo e no modo que lhe coube na situação aflitiva em que se encontrava. É esse retrato que a torna mais humana e nos impele a olhá-la com respeito e a sentirmos que a democracia é simplesmente, a falta de melhor, o mais imperativo dos sistemas político-sociais. 

         - Quando é o contrário, temos a fotografia a sépia da turbamulta de deputados, secretários de Estado, directores disto e daquilo, presidentes de câmara, juízes, membros do Governo e “daquela gente que teme pelo seu futuro: assessores, directores-gerais, especialistas contratados para fazer relatórios, funcionários que têm de agradar a um ministro sem categoria.” (do mesmo livro de Francisco José Viegas, pág. 354). Muitos deles, aproveitando-se dos cargos, ordenaram que os vacinassem. Este privilégio reclamam os deputados que só vão à Assembleia uma vez por semana, os juízes, os directores públicos, enfim, toda essa elite medíocre que até já suborna, trafica influências, impõe e exige ser tratada como realeza. Que o Presidente da República, do Parlamento, primeiro-ministro, todos os ministros, a directora da DGS tenham prioridade é de toda a justiça; agora Rui Rio, os reis de cada partido e mais umas quantas abigarradas criaturas, não. A primazia deve ser dada aos médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar, a todos, público e privado, porque são eles que estão mais expostos e salvam vidas. Depois as pessoas idosas, com doenças graves, depois os outros por idade, os mais velhos em primeiro. Equânimes. 

         - Fui às oito da manhã abastecer-me ao Auchan de Setúbal. Tempo de incertezas  constantes. Céu profundo, baço, pesado. Falei com a Annie, Virgílio, Diaz, Carlos Soares, António, Nieto, João sempre em desacordo, fala sobre fala, as distâncias a esticar em sentidos opostos; ao todo cerca de duas horas e meia. A Annie que estava convocada para a vacina covid, foi à última hora desconvocada. Vou adiar a consulta ao ortopedista da próxima semana para a seguinte de modo a escapar ao contágio do vírus da família real inglesa. 15 horas e 25 minutos.